A Tailândia fez um intervalo na festa do futebol

O luto pela morte do rei ditou que nos próximos tempos os tailandeses vão ter de viver o futebol sem entusiasmo. “Quaisquer actividades festivas” estão proibidas nos estádios.

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Jogadores do Muangthong United durante a cerimónia de luto promovida pelo clube DR

Bhumibol Adulyadej representava muito mais do que uma figura de Estado para os tailandeses. O monarca de 88 anos, que desde 1946 ocupava o trono, era visto como um pai e um semideus pela esmagadora maioria da população e a sua morte deixou o país em choque. O governo decretou um ano de luto nacional em memória do rei da Tailândia e o futebol não escapou: o campeonato acabou tal como estava, com três jornadas por disputar, e o título foi atribuído ao Muangthong United, que liderava a classificação, apesar de o Bangkok United ainda ter hipóteses matemáticas de lá chegar.

“É indescritível o amor que o povo tinha por este rei. Era encarado como um pai, como o primeiro pai de todos, o pai da Tailândia. A decisão de terminar o campeonato foi quase instantânea e tida como a única possível, atendendo ao luto profundo”, disse ao PÚBLICO o português Luís Viegas, que desde Janeiro de 2014 desempenha funções de analista ao serviço do Bangkok United. “Claro que alguns clubes ficaram insatisfeitos, não pela decisão de terminar as competições, mas pelas consequências que isso teve: por exemplo, as duas equipas que desceram de divisão estão a tentar que o campeonato seja alargado”, acrescentou. À 31.ª jornada apenas o BBCU estava matematicamente despromovido. Mas, com o final abrupto do campeonato, as outras duas equipas que estavam abaixo da “linha de água” (Army United e Chainat) também tiveram de despedir-se do primeiro escalão do futebol tailandês.

Também houve efeitos para as restantes competições: “A Taça da Liga foi entregue aos dois finalistas, Buriram e Muangthong. E fez-se um sorteio para decidir a Taça da Tailândia, que estava nas meias-finais. Venceu o Sukhothai”, contou Luís Viegas. Nesta prova houve uma leve controvérsia, já que o vencedor apura-se para o play-off da Liga dos Campeões asiáticos. “O Chonburi, que era uma das quatro equipas nas meias-finais, recusou entrar no sorteio. Mas todas as tomadas de posição foram o mais suaves possível, porque o tema era e é delicado”, notou o técnico português.

O cancelamento de todos os jogos oficiais de futebol na Tailândia provocou um dilema à federação de futebol: a FIFA não atendeu ao pedido para realizar o jogo de 15 de Novembro contra a Austrália, de apuramento para o Mundial 2018, fora do país. Por isso, foi divulgado um conjunto de linhas orientadoras para os espectadores que vão marcar presença no Estádio Rajamangala. “O vestuário masculino e feminino deverá ser respeitoso, com o branco, preto e cinzento como cores sugeridas e, de preferência, sem qualquer elemento gráfico. A camisola alternativa da selecção tailandesa, de cor vermelha, é estritamente proibida”, elenca o primeiro ponto.

“O equipamento de incentivo como tambores, cornetas, bandeiras, megafones, apitos e bastões insufláveis, assim como qualquer outro equipamento, não terá entrada permitida no estádio. Os espectadores não serão autorizados a exibir quaisquer símbolos e nenhum tipo de faixa poderá entrar no recinto. Os cânticos de incentivo ou quaisquer actividades festivas tanto dentro como em redor do estádio são estritamente proibidas”, completa o comunicado da federação tailandesa de futebol.

“O ambiente vai ser diferente, porque aqui o futebol é uma diversão e o povo vive os jogos com muito entusiasmo, muito som, muita alegria. Nos jogos da selecção o estádio costuma estar completamente cheio, com 70 mil pessoas”, indicou Luís Viegas. E até quando terão os tailandeses de viver o futebol sem entusiasmo? “Sinceramente não sei”, confessou o técnico português. “O período de luto é de um ano, mas talvez algumas medidas sejam gradualmente revistas ou alteradas.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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