Can Dündar não ganhou o Sakharov, apenas uma moção

Can Dündar, um ex-director de jornal turco que foi preso, julgado e condenado (depois libertado) por ter divulgado documentos provando o envolvimento do país no abastecimento de grupos jihadistas na Síria, era um dos candidatos ao Prémio Sakharov deste ano. No Parlamento Europeu, em Estrasburgo, assistiu ao anúncio das vencedoras.

Dündar foi nomeado pela sua luta por uma imprensa livre num país onde o Presidente, Recep Erdogan, há muito pôs em prática uma política de controlo dos media e repressão da liberdade de expressão. O golpe de Estado falhado de 15 de Julho deu ao chefe de Estado pretexto para apertar ainda mais esse controlo, encerrando jornais, despedindo jornalistas, prendendo cartonistas. Desde Julho, foram fechados 45 jornais, 16 emissoras de televisão, 23 estações de rádio, 15 revistas e 29 editoras. Milhares de jornalistas, fotógrafos, cartonistas.. foram despedidos ou detidos para averiguações.

O objectivo de Erdogan é criar uma rede de media totalmente estatal, que promova a sua visão da Turquia, que se afasta cada vez mais da vocação europeia e se tenta implementar como potência regional do Médio Oriente.

Erdogan acusou a Europa de lhe ter virado as costas; a União Europeia acusou Erdogan de deriva autoritária e violação dos direitos humanos para marcar passo no processo de adesão do país. Porém, entre os dois, vigora um acordo que travou a chegada de refugiados oriundos da Síria, Iraque e Afeganistão que nenhuma das partes quer quebrar — a Turquia recebe financiamento, a UE mantém dezenas de milhares de pessoas fora das suas fronteiras.

O Parlamento Europeu por não dar o Sakharov também a Dündar (já o entregou a mais do que um candidato no mesmo ano). Deu-o a mulheres torturadas de uma minoria perseguida, o que o torna também um prémio político, mas é mais pacífico no seu alvo: o Estado Islâmico em vez do Governo turco.

Depois do prémio, o eurodeputados aprovaram uma moção a condenar a perseguição aos media na Turquia — o país que se tornou “a maior prisão de jornalistas” do mundo, como lhes disse Can Dündar.

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