Hora a hora, Deus melhora

O primeiro desafio do novo secretário-geral é pôr fim à guerra da Síria.

António Guterres reuniu o consenso dos membros do Conselho de Segurança para ser o próximo secretário-geral das Nações Unidas.

Esse resultado é surpreendente. O consenso inicial dos principais membros do Conselho de Segurança ia no sentido de fazer eleger, pela primeira vez, uma senhora para o mais alto cargo da Organização das Nações Unidas: a Rússia, os Estados Unidos e a Inglaterra apoiaram todos candidatas com brilho e méritos variáveis. Na última hora, a chanceler da República Federal Alemã – um membro tardio das Nações Unidas que não pertence ao Conselho de Segurança – e o presidente da Comissão Europeia – a União Europeia não é membro das Nações Unidas – quiseram opor ao candidato português uma candidata búlgara. Mais, o consenso dominante reclamava a escolha de um candidato da Europa Central e Oriental – houve candidatos moldavos, sérvios, eslovenos, búlgaros, todos sem sucesso.

A escolha de Guterres, claro vencedor das seis votações organizadas pelo Conselho de Segurança, mostra que nem sempre prevalecem as regras tradicionais da política internacional. Se essa interpretação é válida, isso significa que os membros permanentes – só a França apoiou o candidato português desde a primeira hora – estão preparados para ter à frente do Conselho de Segurança um político independente e com um claro perfil de decisor de topo: Guterres, antigo primeiro-ministro e alto comissário para os Refugiados, nunca ocupou posições subalternas na sua carreira.

Ninguém duvida que esse perfil é indispensável para responder à crise de credibilidade do Conselho de Segurança: cinco anos de guerra na Síria chegam para demonstrar que essa instância não esteve à altura de cumprir as suas obrigações como responsável pela segurança internacional. O primeiro desafio do novo secretário-geral é pôr fim à guerra da Síria: se puder fazer a diferença, habemus Papam! Se não, a balança canónica, em que os interesses prevalecem sobre os valores, recupera os seus direitos habituais.

Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-UNL)

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