Par de bustos com diferença de dois meses homenageia António Arnaut em Coimbra

Primeiro foi a Câmara Municipal de Coimbra, depois o Centro Hospitalar. Segunda estátua custou 44 mil euros.

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Paulo Pimenta
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Entre Julho e Setembro, foram inaugurados em Coimbra dois monumentos em homenagem à mesma pessoa e pelo mesmo motivo. Se no dia da cidade, a 4 de Julho, o município decidiu homenagear António Arnaut pelo seu papel na fundação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com a inauguração de um busto, pouco mais de dois meses depois, a 15 de Setembro, foi a vez de o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) apresentar ao público outra estátua, na cerimónia em que se assinalou o 37.º aniversário do SNS.

Dados solicitados pelo PÚBLICO à autarquia de Coimbra mostram que o monumento instalado no Parque Dr. Manuel Braga é composto por um busto, uma coluna jónica e pavimento em xadrez a lembrar a simbologia maçónica, e custou pouco mais de 8600 euros, IVA incluído. O trabalho foi encomendado a Pedro Figueiredo. Já os documentos disponíveis na plataforma de contratos públicos do Estado indicam que o CHUC gastou 44 mil euros divididos por dois contratos. Uma parte, 12 mil euros, que não se percebe se inclui ou não IVA, foi para pagar ao artista plástico, Artur Varela. Já a empreitada inerente ao monumento ascendeu a 26.111 euros, valor ao qual acrescem 6005 euros de imposto, e inclui alterações ao pavimento, instalações em betão armado e as letras que constam do conjunto escultórico, mas exclui as componentes de iluminação e paisagismo. Quer num caso quer noutro tratou-se de ajustes directos, uma vez que os montantes em causa não exigiam concurso público.

No Conselho de Ministros dedicado à saúde que decorreu em Coimbra no mesmo dia da inauguração do monumento do centro hospitalar, o ministro da tutela, Adalberto Campos Fernandes, que também esteve presente na cerimónia, referiu-se às “dificuldades que o país atravessa” e à necessidade de “rigor orçamental”. 

O PÚBLICO tentou em vários momentos obter esclarecimentos junto do conselho de administração do centro hospitalar, presidido por José Martins Nunes, mas não obteve resposta. Do pedido de esclarecimentos constavam questões como a possibilidade de o CHUC fazer uma homenagem de carácter mais simbólico — como fez o município de Penela, terra natal de Arnaut, cuja biblioteca municipal passou a ter o nome do actual presidente honorário do PS —, ou se houve alguma tentativa de se associar ao gesto da câmara municipal.

António Arnaut afirma desconhecer o valor a que ascenderam as homenagens, mas entende serem dirigidas não à sua pessoa mas sim ao Serviço Nacional de Saúde. “Estou lá porque fiz o mais simples e o mais simples foi a lei”, refere. Questionado sobre a despesa que implicou o monumento do centro hospitalar, refere que é preciso “olhar para o valor do SNS e para o valor de uma escultura que fica ali como obra de arte, a lembrar a maior reforma social do século XX português”.

A actual administração do CHUC, cujo mandato termina no início do ano que vem, foi nomeada pelo Governo de coligação PSD-CDS.

António Arnaut, que pertence ao conselho consultivo do centro hospitalar, tem vindo a ser objecto de várias homenagens em Coimbra. Foi ele que, enquanto ministro de Mário Soares, assinou, em 1978, o despacho que viria a dar origem ao SNS. Antes tinha sido deputado à Assembleia Constituinte. Durante os anos da troika em Portugal foi crítico das políticas de austeridade.

Em Abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, agraciou-o com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e o júri do Prémio Nacional da Saúde atribuiu-lhe o Grande Colar, a título honorífico.  Ligado à maçonaria, foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano entre 2002 e 2005 e sucedeu a Almeida Santos no cargo de presidente honorário do PS, partido do qual é fundador.

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