Por mais que seja estudada e escrutinada, é justo dizer que a vida privada de J.D. Salinger continua envolta em algum mistério - ou simples falta de informação. Por isso mesmo, a notícia de que a sua casa, o seu refúgio em Cornish, no verdejante estado norte-americano de New Hampshire, se abre para receber uma residência de ilustradores e cartoonistas é uma rara abertura de um espaço por ele habitado.

Nascido em Nova Iorque em 1919, o autor de À Espera no Centeio ou Franny and Zooey morreria em Cornish em 2010, aos 91 anos, numa cidadezinha nas margens do rio Connecticut. Ao longo da vida, e já depois de uma primeira estadia em New Hampshire, voltaria a morar em Manhattan, mas acabaria por se fixar em Cornish, onde teve duas casas – aquela que agora se abrirá a desenhadores é a sua primeira casa, onde viveu entre 1953 e 1967 e onde formou família com Claire Douglas e teve dois filhos.

Depois do divórcio, ocuparia outra residência em Cornish, embora a primeira casa se tenha mantido na posse de Claire até ser vendida em 1983, quase sem sofrer alterações, como conta a revista New Yorker. Reapareceu no mercado imobiliário em 2014, também sem grandes mudanças à sua arquitectura ou recheio.

Apropriadamente para um escritor tão cioso da sua privacidade, a moradia que habitou nas décadas de 1950 e 60 tem um túnel que leva à garagem no mesmo terreno – esta foi uma das descobertas do ilustrador Harry Bliss, que trabalha para a New Yorker, quando comprou a casa no ano passado. Será no espaço da garagem, que inclui um pequeno apartamento, que agora ficará a Cornish Cartoon Residency, para a qual se podem candidatar ilustradores de todo o mundo que tenham carro com pneus de neve (ou que aluguem um) e disponibilidade para fazer pequenos trabalhos de manutenção, como “esvaziar o desumidificador”. Mas o principal objectivo é, diz Bliss, “criar um ambiente acolhedor para cartoonistas para criarem trabalho excepcional”.

As candidaturas estão abertas até 1 de Novembro no site da residência, que deve realizar-se já em Fevereiro de 2017, e durante a qual os habitantes temporários receberão uma quantia de cerca de 500 euros pelo mês lá passado.