Lisboetas adoram a sua cidade, mas não tanto como já gostaram

A maioria dos lisboetas está satisfeita com a vida em Lisboa, mas houve uma ligeira descida desde 2012.

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Aumento do turismo é uma das razões que afecta o bem-estar dos moradores Miguel Manso/Arquivo

O nível de satisfação dos moradores lisboetas está a diminuir, mas ainda assim a grande maioria afirma-se satisfeito. De acordo com um relatório do Eurostat revelado esta terça-feira, os habitantes da capital estão menos felizes do que estavam em 2012. A par de Lisboa também os habitantes de Berlim, Amesterdão e Helsínquia estão mais insatisfeitos com a qualidade de vida nas cidades quando comparado com alguns anos atrás. Por contraste, os habitantes mais satisfeitos são os de Oslo, Noruega, onde 99% dos moradores se declara feliz com as condições oferecidas pela cidade. O relatório do gabinete oficial de estatísticas da União Europeia analisa ainda os desafios e oportunidades económicas dos pólos urbanos e as suas dicotomias.

O relatório detalha que Lisboa integra um dos dez países da União Europeia onde o nível de satisfação estava, em 2015, abaixo de 90%, concretamente em 89% quando, em 2012, se situava nos 91%. Mesmo assim, mantém-se acima de outras capitais como Bruxelas, Madrid, Roma ou Paris.

O relatório conclui que a maioria da população europeia vive feliz nas suas capitais. Mas há excepções. Atenas, por exemplo, é uma das cidades com menor nível de satisfação. Ainda assim, os helénicos que vivem na capital sentem-se muito melhor do que em 2012, altura da crise financeira, tendo passado de 56 para 71 a percentagem daqueles que se dizem satisfeitos.

De acordo com o relatório, Lisboa tem um dos mais elevados níveis de turismo nos dias que correm. O mesmo documento reconhece que o aumento desta actividade se traduz num estímulo ao crescimento económico, mas alerta que pode prejudicar a qualidade de vida dos habitantes locais, prejudicando a atmosfera e a cultura local que caracterizam cada cidade. Os exemplos citados no relatório destacam a substituição do comércio local por novas lojas de retalho, bem como o aumento dos preços – entre os quais as rendas, por exemplo -, bem como o aumento do barulho e congestionamento do trânsito.

O aumento dos preços poderá justificar uma das outras conclusões apresentadas no relatório: É mais provável encontrar mais jovens a viver nos subúrbios das grandes cidades do que nos centros urbanos. Neste tópico, Espanha e Portugal, respectivamente Madrid e Lisboa, destacam-se dos restantes países como as cidades mais envelhecidas. No início de 2014, mais de 25% dos moradores lisboetas tinha mais de 65 anos.

Ainda no que diz respeito à demografia, entre 2004 e 2014, a percentagem da população a viver em Lisboa aumentou em relação à população total, acompanhando assim a tendência de crescimento das restantes populações europeias. Ainda assim, e apesar do aumento – pouco significativo -, a percentagem de pessoas a viver na capital é inferior a 30%. Além disso, entre 1961 e 2001, Lisboa foi uma das cidades onde o crescimento da população mais contraiu.

O relatório compara ainda o custo de vida das cidades tendo como baliza o custo de vida em Bruxelas. Lisboa, apesar de ser mais barata que a capital belga, viu os seus preços aumentarem para mais de o dobro nos últimos dez anos, entre 2005 e 2015. Londres é a cidade mais cara. Já Sofia, na Bulgária, surge como a capital onde, por comparação, o custo de vida é menor.

Quanto ao crescimento económico registado nas capitais por comparação à média dos países, Portugal é uma das excepções registadas na análise. A par de Riga, Praga, Talin, Viena e Helsínquia, a capital portuguesa mantém os mesmos níveis de crescimento económico registados pelas restantes cidades do país.

As áreas urbanas europeias são normalmente reconhecidas por concentrarem um elevado número de actividades económicas e por oferecerem, geralmente, mais empregabilidade e riqueza. Não obstante, são também lugares de contraste, de desigualdade social e de proximidade com cenários de crime e pobreza. De acordo com as contas do gabinete de estatística europeu, existem pelo menos 34 milhões de pessoas nas cidades em risco de pobreza ou exclusão.

Desde meados do último século que a maioria da Europa tem assistido ao alargamento das suas cidades e ao aumento da população urbana com o êxodo das zonas rurais para as regiões suburbanas, que são uma espécie de híbrido entre a vida no campo e o bulício das urbes.

O relatório descreve ainda os hábitos quotidianos nas cidades europeias. Em Lisboa, a maior parte da população utiliza carro ou motociclo, quer no centro da cidade, quer nos subúrbios. Segue-se o transporte público e o transporte a pé. De acordo com os dados recolhidos, a expressão da bicicleta é tão mínima que não chega a encontrar representação, ao contrário de outras capitais, com o óbvio destaque de Amsterdão. 

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