Guterres vai a votos a 9 e 26 de Setembro

Processo de eleição do novo secretário-geral da ONU só deverá estar concluído no Outono.

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António Guterres no debate com os demais candidatos, em Nova Iorque, a 12 de Julho Mike Segar/Reuters

As candidaturas a secretário-geral das Nações Unidas vão ser novamente votadas pelo Conselho de Segurança nos próximos dias 9 e 26 deste mês. Depois da candidatura do antigo primeiro-ministro português ter sido a mais votada nas sessões de 21 de Julho, 5 e 29 de Agosto, António Guterres tem pela frente mais estas duas rondas que antecedem a votação final no Conselho de Segurança, que ainda não está agendada.

Só nesta última será conhecido o sentido de voto dos cinco membros permanentes – França, China, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia – através de um código de cores de verde, vermelho e amarelo para as três opções: encorajamento (sim), desencorajamento (não) e sem opinião, que na prática equivale a abstenção. A partir de então serão perceptíveis os alinhamentos por candidatura, embora a experiência de anteriores eleições evidencie que pode haver mudanças na decisão entre os cinco países com direito a veto no Conselho de Segurança.

Assim aconteceu com a candidatura do ganês Kofi Annam, secretário-geral da ONU entre 1997 e 2007, que começou por não ter o voto da França, membro permanente do Conselho de Segurança, embora Paris tenha alterado posteriormente a sua posição. Tal alteração ficou a dever-se a negociações para outros cargos dependentes do Conselho de Segurança. Então, os franceses passaram do “não” ao “sim” à candidatura de Annam, depois de lhes ter sido atribuído o Departamento de Operações de Paz.

Nas três votações já realizadas, Guterres foi sempre o candidato melhor avaliado pelos 15 membros do Conselho de Segurança. A 21 de Julho teve 12 votos de encorajamento, três sem opinião e nenhum “não”. Na votação de 5 de Agosto, obteve 11 votos favoráveis, dois contra e dois sem opinião e, na passada segunda-feira, manteve os 11 de apoio, e teve três desfavoráveis e um sem opinião. A trajectória destas votações só permite uma conclusão: a existência de uma coerência nos apoiantes da candidatura do antigo Alto-Comissário Para os Refugiados, que equivalem a mais de dois terços dos Estados representados no Conselho de Segurança.

Nesta fase, ainda não é possível retirar outras ilações, nomeadamente sobre as flutuações dos votos contra e das abstenções. O mesmo ocorre, aliás, com as outras candidaturas. Na votação de 29 de Agosto, a búlgara Irina Bukova, directora-geral da UNESCO, que reunia duas condições consideradas antecipadamente indispensáveis para o cargo – origem e género -, ou seja, ser de um país do leste europeu e mulher, só conseguiu sete votos favoráveis, teve cinco em contra e três sem opinião. Recorda-se que a eleição de uma mulher para liderar a ONU foi defendida pelo actual secretário-geral da organização, o sul-coreano Ban Ki-moon, e admitida como importante pelo embaixador russo nas Nações Unidas, Vitaly Churkin. “Virá o tempo que será uma mulher, mas será este o tempo?”, interrogou-se o diplomata de Moscovo numa declaração à Associated Press.

Do mesmo modo, a segunda candidatura melhor avaliada na passada segunda-feira foi a do ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Miroslav Lajavak, com nove apoios, cinco “nãos” e uma abstenção, que nas anteriores votações teve resultados discretos. Assim, na sessão de 5 de Agosto, foram mais os votos sem opinião – sete -, que os “sim”, apenas dois, e os de desencorajamento (seis). Um exemplo claro da fluidez que marca este processo que só estará concluído no Outono, muito provavelmente depois da sessão anual da Assembleia-Geral das Nações Unidas deste mês.

Depois de uma década como Alto-Comissário para os Refugiados da ONU, entre 2005 e 2015, a acção e opiniões de António Guterres são conhecidas nos círculos internacionais. No debate de 12 de Abril entre os candidatos – uma novidade em prol da transparência – o seu desempenho recebeu elogios de influentes meios de comunicação, da BBC à Reuters, passando pelo Guardian e Economist

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