A selecção “Nação valente” ainda pode levar Marcelo a Fátima

“Hoje temos mais razões para acreditar em Portugal”, disse o Presidente na recepção dos campeões europeus em Belém, onde a alegria soterrou o protocolo.

Fotogaleria
A equipa portuguesa que venceu o Euro 2016 foi recebida nos jardins do Palácio de Belém Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio

Marcelo Rebelo de Sousa baptizou-a de selecção “Nação Valente” e até pondera ir a Fátima pela conquista do primeiro título no campeonato europeu de futebol. Num dia que não foi igual aos outros, a selecção nacional entrou no Palácio de Belém a cantar bem alto a “Casinha” dos Xutos e Pontapés e saiu em t-shirt onde se lia “Um de 11 milhões”. Pelo meio, povo e elites afinaram na mesma euforia.

Quando os dois autocarros panorâmicos pintados com as cores de Portugal e a palavra “Campeões” chegou à praça Mouzinho de Albuquerque, já depois das 14h, ergueram-se ainda mais bandeiras, mais vozes e vuvuzelas que as que já se ouviam antes. E por trás dos muros cor-de-rosa, a alegria soterrou o protocolo e até o primeiro-ministro pediu uma foto com Cristiano Ronaldo. Esta segunda-feira, o rei das selfies foi mesmo o capitão português.

Ainda a acusar a lesão do joelho que o pôs fora de jogo logo no início da final no Stade de France, Cristiano era apesar disso um dos mais exuberantes na alegria. Com uma bandeira nacional à cintura, outra da Madeira às costas e um cachecol de Portugal ao pescoço, Ronaldo deixou a restante equipa na formatura e avançou para a varanda do Palácio para saudar a multidão lá fora. Um momento de júbilo, repetido no final, quando levantou a taça uma última vez frente ao povo que o aclamava.

“O dia de hoje não é igual ao dia de ontem”, afirmou o Presidente da República no seu discurso de homenagem à selecção. “Para muitos parece que sim, ganhou-se o campeonato da Europa, continuam os problemas económicos, sociais, políticos e culturais”, disse, sem se perceber para quem. Mas logo assinalou o contraste: “A diferença foi o vosso exemplo, o exemplo da coragem, da determinação, do espírito de luta e de equipa. Hoje temos mais razões para acreditar em Portugal”, afirmou. Naquele momento, ninguém pensava nas sanções que o Ecofin pode na terça-feira decidir aplicar a Portugal (e Espanha) por incumprimento do défice. Naquele momento, ninguém pensava no dia de amanhã.

No momento mais formal da recepção, Marcelo deu as boas-vindas aos “campeões”. Lembrou que há um mês tinha dito que esta selecção era a melhor da Europa e afastou o tanto de pessimismo que foi sendo dito no último mês: “Está provado que não há acaso, nem sorte, que esta não é uma equipa banal: são mesmo os melhores da Europa”. Sublinhou as qualidades: “Competência, capacidade de trabalho, resistência, mas acima de tudo unidade e humildade”. E deu uma palavra especial ao seleccionador: “Oh, Fernando Santos, que liderança tão eficiente, tão inteligente, tão calma, que nunca teve medo de nada”.

O discurso estava a ser transmitido para o exterior, de onde se ouviam os aplausos, as vuvuzelas, os gritos de “Campeões”. Cristiano Ronaldo, Éder e Quaresma eram os nomes mais aclamados, mas o chefe de Estado tinha outra mensagem: “Não há génios. É tão importqante um golo marcado com um calcanhar genial como a defesa de um penalti que nos dá a vitória”.

E foi nesse espírito de “todos iguais” que decidiu aplicar na atribuição de medalhas: “Os jogadores têm todos a mesma condecoração, não há os de primeira, de segunda ou terceira, e a equipa técnica também”. Esta segunda-feira as medalhas não estavam prontas, e por isso toda a equipa recebeu o alvará de atribuição do grau de comendador da Ordem de Mérito. Voltarão a Belém mais tarde, para a cerimónia de condecoração.

Nos jardins do palácio, funcionários e familiares, dirigentes partidários, polícias e jornalistas fervilhavam de emoção, de telemóvel em riste, muitas vezes tentando selfies com a selecção ao fundo. Assunção Cristas não resistiu a pedir um autógrafo ao capitão, o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, pediu-lhe uma selfie e a cozinheira da Presidência ia ficando sem voz a gritar por ele – até ser levada ao autocarro para um beijinho, quando a selecção estava já prestes a partir.

Antes da partida, Marcelo e Ronaldo abraçaram-se calorosamente uma última vez, sussurraram ao ouvido um do outro e deram um beijinho de despedida. Logo depois o chefe de Estado, assumindo-se como “um homem de fé”, confessou a um pequeno grupo de jornalistas estar a ponderar ir a Fátima agradecer a vitória da selecção e a forma como se aguentou, muitas vezes “de forma sobre-humana”. “Rezámos muito terços. Ele e eu [Fernando Santos]. Muitos. Ainda vou a Fátima por conta disso”, admitiu, citado pela Lusa.

"O que Portugal teve superior aos outros, além do talento e do génio de vários jogadores, foi o espírito de equipa e a resistência. Eu nunca pensei que, jogando tantos prolongamentos, chegando a penáltis e portanto jogando mais tempo do que as outras equipas, com intervalos por vezes muito curtos, que aguentasse tanto", afirmou.

Por essa altura, já os jogadores deviam estar fartos dos fatos com que vieram de França e a logística rapidamente os fez ficar mais à vontade. De um carro de apoio saltaram caixotes com sapatilhas novas e t-shirts com uma frase adaptada de outra que marcou a campanha de apoio à selecção: “Um de 11 milhões”. O mesmo espírito “todos iguais” que o Presidente transmitira. Mas, como diria George Orwell, há sempre uns mais iguais do que outros.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários