A grande dúvida dos Jogos do Rio mora em Brasília

A 100 dias do arranque do maior evento desportivo do planeta, a nuvem política sobrepõe-se ao calendário para a conclusão das obras.

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Ricardo Moraes/Reuters

Na recta final da maratona que é a organização de um evento com a magnitude de uns Jogos Olímpicos, há sempre espaço para pontos de interrogação. As Olimpíadas do Rio 2016 não são excepção, mas não é sequer o atraso em algumas infra-estruturas ou tampouco as críticas de federações internacionais que levantam a maior dúvida em torno da competição. A pergunta que se coloca, num país política e financeiramente abalado, é quem irá presidir à cerimónia de abertura prevista para 5 de Agosto.  

Total confiança do lado da organização, muitas dúvidas da parte de algumas federações. A 100 dias do arranque dos Jogos do Rio de Janeiro, há várias arestas a limar e problemas de última hora a resolver, mas o balanço feito recentemente por um membro do Comité Olímpico Internacional (COI) traça um retrato optimista, especialmente se tivermos em conta o período de turbulência que o país atravessa. “Há quase 98% de obras concluídas e testemunhámos isso nas nossas visitas”, assinalou Nawal El Moutawakel, líder da comissão responsável pela fiscalização dos projectos.

É claro que há ainda objectivos por cumprir, mas o panorama não é tão cinzento como se chegou a crer. Continua a registar-se um atraso nas obras do velódromo (o evento-teste da modalidade teve mesmo de ser cancelado), continua por cumprir o plano de despoluição da baía de Guanabara (palco das regatas de vela) e continuam a faltar camas (o prazo de construção do hotel de 13 andares projectado para o Parque Olímpico derrapou), ainda que a oferta tenha duplicado desde 2009, ano em que foi atribuída ao Rio a organização dos Jogos.

O que deixou alguns responsáveis federativos de pé atrás, na verdade, foi o corte de 12% imposto ao orçamento do Comité Organizador. De resto, numa recente reunião dos membros da Associação Internacional das Federações dos Jogos de Verão (ASOIF), na Suíça, foi expresso o receio de que venham a faltar verbas para a montagem final das instalações e, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, foi sugerido que a organização carioca “não fez o suficiente” para evitar os percalços.

Embora Agberto Guimarães, director de Desportos do Comité Rio 2016, tenha assegurado que a redução orçamental “não vai prejudicar a operação”, os cortes de electricidade que se verificaram na passada semana, durante o evento-teste realizado na Arena Olímpica, e novamente na terça-feira, no Estádio Aquático, levantam preocupações a alguns responsáveis federativos. 

Todas estas questões, porém, passam para segundo plano se olharmos para o retrato geral de um país dividido e imerso numa profunda crise política e económica. Com a destituição de Dilma Rousseff em cima da mesa — a comissão especial do impeachment no Senado começou a trabalhar na terça-feira —, não é sequer claro quem irá fazer as honras de abrir, no dia 5 de Agosto, as portas do Brasil ao mundo do desporto. Será Dilma ou o vice-presidente Michel Temer a declarar, no Estádio do Maracanã, a abertura dos Jogos?

Thomas Bach, presidente do COI, tenta desdramatizar e pôr alguma água na fervura, embora se tenham iniciado entretanto discussões, fomentadas pela ASOIF, sobre a revisão do processo de escolha das cidades anfitriãs da competição. “Estes Jogos Olímpicos serão uma mensagem de esperança em tempos difíceis”, vincou o dirigente, que tem a garantia de contar com 80.000 agentes e soldados para garantir a segurança de cerca de 10.500 atletas e 450.000 visitantes de todo o mundo, ao longo de três semanas. 

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