Iraniana Mahboobeh Pakdel vence PortoCartoon

Em 18 edições, é a primeira vez que o prémio promovido pelo Museu Nacional da Imprensa é atribuído a uma mulher.

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Emigration, da iraniana Mahboobeh Pakdel, venceu o Grande Prémio do PortoCartoon
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O 2.º prémio foi para este trabalho do turco Muhittin Koroglu
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Plantu recebeu o 3.º prémio ex-aequo com esta reivindicação da utopia grafada em português
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O brasileiro Cau Gomez venceu a competição de caricatura dedicada a Charles Chaplin
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Oo italiano Marzio L. Mariani venceu a competição de caricatura dedicada à modelo portuguesa Sara Sampaio

O desenho Emigration, da artista iraniana Mahboobeh Pakdel, venceu esta segunda-feira o Grande Prémio do 18º PortoCartoon, organizado pelo Museu Nacional da Imprensa e dedicado, este ano, ao tema O entendimento global. É a primeira vez que o Grande Prémio do festival consagra o trabalho de uma desenhadora.

O trabalho de Pakdel mostra um barco sobrelotado num mar alteroso, balanceado não apenas pelas vagas, mas também pelo movimento pendular de um gigantesco sino que ostenta as estrelas da União Europeia, e a cujo badalo os emigrantes se agarram.

O júri internacional deste 18º PortoCartoon incluiu o presidente da FECO (Federation of Cartoonists Organizations), Bernard Bouton, o director do Museu Nacional da Imprensa, Luís Humberto Marcos, Luís Mendonça, representando a Faculdade de Belas Artes do Porto, o  encenador Roberto Merino e Xaquín Marín, fundador do Museo de Humor de Fene, em Espanha. A presidência honorária do júri foi simbolicamente atribuída a um dos mais antigos colaboradores do prémio, George Wolinski (1934-2015), um dos cartoonistas assassinados em 2015 no ataque às instalações da revista Charlie Hebdo, em Paris.

Depois de a polaca Izabela Kowalska-Wieczorek ter recebido em 2015 o segundo prémio, tornando-se a primeira mulher, em 17 edições, a ocupar o pódio do PortoCartoon, a vitória de Mahboobeh Pakdel parece vir reconhecer a crescente relevância das desenhadoras numa arte que durante muitos anos foi essencialmente masculina.

Talvez receando que a escolha da iraniana pudesse equivocamente ser lida à luz da recente polémica que estalou em França quando o prestigiado festival de Banda Desenhada de Angoulême não incluiu uma só mulher entre os 30 autores nomeados para a sua edição de 2016, Bernard Bouton garantiu ao PÚBLICO que não só o género da artista não teve qualquer influência na decisão do júri, como ele próprio acreditava estar a premiar um desenhador, cujo traço julgou reconhecer nos cartoons de Pakdel.

O que a Bouton parece mais significativo nesta escolha é a confirmação de que o PortoCartoon, que considera “um dos cinco grandes prémios internacionais de cartoonismo”, e que anualmente “recebe alguns dos artistas mais consagrados”, também promove os artistas emergentes. “O Grande Prémio foi para uma artista iraniana que ninguém conhecia”, observa. Nascida em 1986, Mahboobeh Pakdel, que vive em Mashhad, a segunda cidade mais populosa do Irão, iniciou a sua carreira de cartoonista apenas em 2011.  

O segundo prémio do PortoCartoon foi para Muhittin Koroglu, da Turquia, e o terceiro foi atribuído ex-aequo ao romeno Mihai Ignat e ao francês Plantu, caricaturista do Le Monde, com um desenho onde o slogan “Viva a Utopia!” aparece grafado em português.  Tanto Koroglu como Ignat já haviam ganho o Grande Prémio, respectivamente em 2003 e 2009.

A edição deste ano incluiu ainda dois prémios especiais de caricatura, que homenagearam respectivamente o criador de Charlot, Charles Chaplin, e a modelo portuguesa Sara Sampaio. Os vencedores foram, respectivamente, o brasileiro Cau Gomez e o italiano Marzio L. Mariani.

Em apreciação estiveram cerca de 1800 obras, de quase 500 artistas, oriundas de 60 países de todos os continentes. O Irão, um dos países que mais violentamente reprime a liberdade de expressão e a livre criação artística, foi o recordista de participações, com 60 desenhadores e mais de 200 trabalhos a concurso.

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