A Europa sem sinais de futuro

 Depois da batalha em Bruxelas, é bom que David Cameron ganhe agora a guerra no Reino Unido. Ou seja, depois do difícil acordo que acabou por obter com os restantes líderes europeus para poder defender em casa a permanência no Reino Unido na União, é fundamental que vença agora o referendo de 23 de Junho. Ninguém lhe perdoaria que às dificuldades criadas ao já de si difícil caminho da integração com a invenção de uma perigosa e inconveniente consulta popular por meras razões de política interna, acrescentasse mais uma derrota no referendo. A acontecer, um cenário desses ditaria o princípio do fim da UE, de consequências absolutamente catastróficas.

Mesmo assim, os sinais que ficam no terreno em resultado da negociação entre o Reino Unido e os outros 27 países da União não são propriamente promissores. Sobra, mais uma vez, a constatação de que os egoísmos nacionais se vão irresponsavelmente sobrepondo aos interesses do todo e cristaliza mais a ideia que é sempre possível a um país rico e poderoso impor um estatuto especial para si próprio. Ora esta percepção sobre a falta de equidade inter pares, este risco de uma construção europeia cada vez mais à la carte, este rumo vertiginoso em direcção a uma Europa a duas velocidades não prenuncia nada de bom. A crise das dívidas soberanas, a que se juntou o drama dos refugiados, contribuiu decisivamente para empolar divisões que já vêm lá de trás - do espectacular chumbo dos referendos da França e Holanda à ‘constituição europeia’, em 2005 e, três anos mais tarde, do não da Irlanda ao Tratado de Lisboa. Mas é inegável que a jogada de Cameron só ajuda a abrir mais as brechas da desintegração europeia.

É verdade que, por razões históricas específicas, o Reino Unido sempre foi um membro muito especial do clube europeu. Não faz nem fará parte do euro, não pertence a Schengen, ficou de fora da Carta dos Direitos Sociais e da união bancária, obteve agora garantias que põem o país a salvo da integração em crescendo, consubstanciada no princípio da ever closer union constante dos tratados. Justamente o contrário do que a Europa agora precisava. Só a fraqueza da União permite que, nos últimos anos, o sonho europeu se venha transformando num pesadelo de contornos de catastróficos, como seria o caso da saída do Reino Unido da UE. Mas o pior de tudo é mesmo não se vislumbrar qualquer sinal de futuro para o projecto europeu. Mesmo que os britânicos derrotem o aventureirismo de Cameron e digam sim à permanência do seu país na Europa.    

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