No Porto, a Rua Ferreira Borges vai estar de luto, em protesto

Balões e ramos negros serão colocados em montras e fachadas, para protestar contra o excesso de trânsito e o estacionamento indevido dos autocarros turísticos.

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Os autocarros de turismo são um dos alvos do protesto Paulo RIcca

Esta sexta-feira, a Rua Ferreira Borges, no Porto, vai estar de luto. O protesto, porque é disso que se trata, foi decidido pelos comerciantes, cansados de verem a artéria entupida com os autocarros de turismo que ali ficam parados e com o aumento do tráfego, provocado por recentes alterações do trânsito na zona. A Câmara do Porto já garantiu que vai intervir no transporte turístico, mas não se comprometeu com mudanças nas alterações do sentido do trânsito.

Num comunicado em que explicam as razões do protesto, os comerciantes da rua no centro histórico defendem que os problemas causados pelas “condições de tráfego rodoviário e desregulação do estacionamento à superfície” já se tornaram “um problema de saúde pública para os que trabalham e vivem na zona, para os transeuntes e turistas e para a própria cidade”. Carmen Velosa, responsável por uma loja de artesanato na Ferreira Borges diz que o protesto não será apenas dos empresários locais, mas também de quem lá mora. “Vamos colocar balões pretos em todas as lojas e ramos negros nas montras. Todos os espaços de comércio vão aderir, mas também moradores e gabinetes de arquitectura instalados no local”, diz.

O objectivo, diz Carmen Velosa, é alertar os responsáveis autárquicos “para que façam alguma coisa, no sentido de desviar os autocarros de turismo que ocupam a rua inteira, estacionados em segunda fila, com os motores ligados”. A comerciante explica que as horas mais complicadas são o final da manhã, “por volta das 11h, 11h30” e o final da tarde. A situação, garantem, agravou-se a partir de Maio, com o aumento de turistas. “Parece-nos que isto tem a ver com a chegada dos cruzeiros ao Porto de Leixões. Cada barco dá origem a cerca de 40 autocarros, de pessoas que vão visitar o Palácio da Bolsa [na rua]”. Apesar de esta não ser a única queixa de quem vai protestar, Carmen Velosa admite que a retirada dos autocarros de um local onde nem sequer é permitido estacionar “já melhorava a situação, porque permitia uma fluidez de trânsito maior”.

O tema não é novo para a câmara. No final de Julho, os vereadores do PSD apresentaram uma proposta pedindo obras no cruzamento da Rua de Mouzinho da Silveira com a Rua do Infante D. Henrique (onde termina a Rua Ferreira Borges), que permitissem que “a circulação de viaturas turísticas seja possível em direcção a nascente”, no sentido da Ponte Luiz I; e obras no cruzamento das ruas de S. João com a do Infante D. Henrique, que tornassem possível a circulação de viaturas ligeiras, também no sentido da ponte. A proposta seria aprovada por unanimidade, depois de os sociais-democratas terem concordado em substituir “a realização de obras” pela admissão de câmara em “equacionar e avaliar” essa possibilidade.

Na altura, a vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, explicou que as alterações de trânsito que obrigam todos os veículos que querem seguir para a Ponte Luiz I a passarem na Ferreira Borges, em vez de descerem a Mouzinho da Silveira, foram feitas com base num plano de tráfego e financiadas por fundos comunitários, o que “condiciona fortemente qualquer alteração”.

Já os abusos dos autocarros turísticos foram discutidos na última reunião de câmara, com o presidente Rui Moreira a garantir que, depois de ter sido dada a oportunidade às empresas turísticas para se auto-regularem, a câmara iria agir, uma vez que nada tinha sido feito. A assessoria de imprensa confirma, agora, ao PÚBLICO, que o tema está a ser estudado, mas que as eventuais soluções só serão apresentadas quando estiverem decididas.

Na rua, para já, protesta-se. “Nunca pedimos para tornarem a rua pedonal. Pedimos é que nos aliviem um pouco”, diz Carmen Velosa.

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