Acolher refugiados: portugueses divididos entre a solidariedade e o medo

Este sábado assinala-se o Dia Europeu de Acção pelos Refugiados. Portugal associa-se com manifestações de solidariedade em cinco cidades.

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PHILIPP GUELLAND/AFP

Portugal vai receber mais de 3000 refugiados e alguns deles poderão chegar já este ano. Mas que recepção os espera? Se por um lado vários sectores da sociedade se desdobram em iniciativas solidárias, há também quem organize petições contra o acolhimento de refugiados. Para este sábado estão agendadas manifestações de solidariedade em cinco cidades portuguesas e noutros países europeus.

Desde que a crise de refugiados se intensificou, os movimentos solidários para o seu acolhimento começaram a suceder-se em toda a Europa. Portugal não foi excepção. Autarquias de todo o país, incluindo Açores e Madeira, mostraram interesse em receber refugiados, bem como a Universidade de Coimbra, a Conferência Episcopal Portuguesa e também a União das Misericórdias Portuguesas, que se afirmou em condições de acolher "grande parte" dos refugiados que cheguem a Portugal.

Entretanto foi também criada uma Plataforma de Apoio aos Refugiados destinada a procurar respostas e acolhimento para famílias em situação de emergência, que integra já 30 instituições – incluindo a Comunidade Islâmica de Lisboa, que manifestou disponibilidade para receber perto de 250 refugiados.

Este sábado, assinala-se o Dia Europeu de Acção pelos Refugiados e Portugal associa-se com manifestações de solidariedade agendadas para as 15h00 em cinco cidades: Coimbra (Praça 8 de Maio), Faro (Largo da Sé), Felgueiras (Praça da República), Lisboa (Marquês de Pombal – Terreiro do Paço) e Porto (Avenida dos Aliados – Câmara Municipal do Porto).

As manifestações de apoio vão ter lugar nas principais cidades de vários países europeus, incluindo Alemanha, Áustria, Espanha, França, Hungria, Itália, Reino Unido, entre outros.

Em simultâneo têm aparecido movimentos de contestação, com várias petições a reunirem milhares de assinaturas. “Petição ao referendo relativo ao acolhimento dos refugiados em Portugal”, “Contra refugiados islâmicos em Portugal” ou “Contra a vinda dos refugiados para Portugal são alguns dos títulos de petições disponíveis no site Petição Pública, na sua maioria com um número de assinantes residual. 

No entanto existem três petições que, reunidas, agregam quase 30 mil assinantes. "Não aos refugiados em Portugal" é a petição que reúne mais assinaturas, contando já com o apoio de 14.175 pessoas, apesar de não ser possível perceber se são apoios reais ou virtuais. No texto que justifica a petição pode ler-se: "Portugal precisa de ajuda, com nível alto de desemprego, com imensa taxa emigratória e sem condições para apoiar refugiados. Não queremos pagar dos nossos bolsos para que os refugiados estejam cá. Basta!".

Os comentários que acompanham a petição incluem referências à eventual entrada de elementos de redes terroristas a par dos refugiados. Há inclusivamente quem defenda que, se os refugiados chegarem, daqui por uns anos o país vai assistir a "pessoas a explodir em plena Lisboa".

De acordo com a  Lusa, os peticionários assumem que o objectivo é levar a petição até à Assembleia da República e justificam que "não é justo", perante os vários portugueses "que vivem miseravelmente", que os refugiados venham a ter "benesses" como subsídio de integração, habitação mobilada e equipada ou consumo de eletricidade, água, gás e telecomunicações gratuitos.

Milhares de refugiados continuam a chegar à Europa todas as semanas. Os países europeus não definiram ainda respostas concretas mas na próxima segunda-feira os ministros do Interior dos 28 países da União Europeia vão reunir-se uma vez mais. É uma nova tentativa de definir uma estratégia comum para a crise humanitária que tem marcado os últimos meses.

Em declarações a propósito da questão, o ministro da Presidência afirmou que "Portugal quer estar na primeira linha" do auxílio humanitário aos refugiados, adiantando que o Governo já está a trabalhar com as instituições públicas e associações da sociedade civil para preparar o acolhimento.

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