Seixas da Costa alerta para risco de divisão interna do PS nas presidenciais

Deputado José Junqueiro critica demora no anúncio de apoio presidencial da parte do líder socialista por considerar que isso "gera equívocos dentro do PS".

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Niguel Manso

Francisco Seixas da Costa já viu o mesmo filme acontecer nas últimas duas eleições presidenciais: com o PS dividido entre duas candidaturas, acabou por ser o candidato apoiado pela direita a vencer as eleições.

A conclusão do ex-secretário de Estado de um Governo socialista e apoiante da actual liderança de António Costa surge na sequência da entrevista desta quinta-feira do secretário-geral do PS à revista Visão. Em declarações ao PÚBLICO, o ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus do Governo de António Guterres considerou que das palavras do líder socialista “resulta manifestamente uma imagem de simpatia” em relação à candidatura de Sampaio da Nóvoa. E é perante estas actuais “circunstâncias” que o antigo diplomata que colaborou na elaboração do programa eleitoral socialista alerta para o risco. “O PS não escapa à sua recorrente divisão no que toca às presidenciais. Temo que uma divisão possa vir a fragilizar a possibilidade de haver uma candidatura à esquerda que seja vencedora”, lamentou.

O embaixador sustenta a sua avaliação em exemplos do passado. Invocando as últimas duas eleições para Belém, em que o PS se dividiu entre diferentes candidatos, Manuel Alegre e Mário Soares,  com a consequente eleição de Cavaco Silva.

No entanto, Seixas da Costa não aponta culpados para  a presente situação, invocando antes as “circunstâncias” actuais. Uma posição que, contudo, não é consensual. O deputado José Junqueiro, que declarou o seu apoio a Maria de Belém numa candidatura presidencial, acredita que uma clarificação da parte de António Costa traria vantagens. “Na política devemos ser genuínos e se há várias figuras próximas do actual secretário-geral que apoiam Sampaio da Nóvoa, eu, no lugar dele, já tinha dito o que pensava sobre este assunto. Declarar o apoio só depois das legislativas gera equívocos dentro do PS.”

Já Eurico Brilhante Dias, ex-membro da direcção de António José Seguro e apoiante da candidatura de Maria de Belém à Presidência, não viu nas palavras do secretário-geral qualquer “apoio declarado”: “Foi uma reafirmação de que as legislativas é que são importantes. Não atrasa nem adianta”, afirmou ao PÚBLICO.

A entrevista não espoletou, no entanto, o debate público nas fileiras socialistas que o possível avanço da antiga presidente do PS provocou. Mas reforçou a impressão de que a candidatura de Sampaio da Nóvoa teve o consentimento antecipado de Costa. E revelou uma subalternização da função presidencial.

Na entrevista , António Costa, referiu Sampaio da Nóvoa como um candidato presidencial “próximo da família socialista” ao mesmo tempo que se recusou encará-lo como a “caricatura esquerdista” com que tem sido descrito. 

Ainda que tenha remetido uma decisão do partido para “momento próprio”, Costa aproveitou para afirmar que “nesta altura já há um candidato assumido e próximo da família socialista”. Sem dar o apoio expresso, António Costa disse ter “muita estima” pelo candidato. E lembrou que o antigo reitor não participou apenas no último congresso do PS, mas também em iniciativas socialistas de António José Seguro e de José Sócrates.

Questionado sobre a hipótese de Maria de Belém avançar como uma candidatura à Presidência da República, Costa lembrou os vários momentos em que o partido esteve em desacordo sobre candidaturas e até a altura em que o fundador Mário Soares disputou a eleição contra Manuel Alegre. Mas deixou um aviso sobre o perfil de um candidato a Belém: “Acho incompreensível que numa eleição por natureza proposta por cidadãos e que apela aos princípios da cidadania se defenda que só têm direito a candidatar-se os nascidos e criados nas estruturas partidárias... quando a Presidência da República deve ser, por excelência, o espaço da cidadania”. Este elogio aos independentes tem sido criticado por sectores do PS que, sublinham, que o partido foi fundamental para a eleição dos três primeiros Presidentes da República. Um, Ramalho Eanes, por ele apoiado; dois, Mário Soares e Jorge Sampaio, oriundos do mais alto patamar das suas fileiras.

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