Demolições no Bairro de Santa Filomena continuam apesar dos protestos

Uma tenda instalada em frente à sede do PS, em Lisboa, simbolizou a falta de alternativas para as famílias desalojadas.

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Câmara já realojou 327 dos 583 agregados familiares residentes no Bairro de Santa Filomena Miguel Manso

A Câmara da Amadora garante que não vai parar o desmantelamento do Bairro de Santa Filomena, apesar dos protestos de moradores e associações e até da recomendação do provedor de Justiça para a suspensão das demolições. As máquinas voltaram ao bairro nesta terça-feira, desalojando famílias com crianças que alegam não ter para onde ir.

Em protesto contra o avanço dos trabalhos, o Colectivo Habita, que tem acompanhado o processo, montou esta tarde uma tenda no Largo do Rato, em Lisboa, em frente à sede do Partido Socialista, a cuja direcção pertence a presidente da Câmara da Amadora, Carla Tavares. A acção simboliza a falta de alternativa para as famílias desalojadas, uma delas composta por uma mulher de 27 anos grávida de sete meses, uma criança de cinco anos e o pai, desempregado.

A mulher, que diz viver há dois anos no bairro embora este não seja lá a sua morada oficial, afirma que foi encaminhada pela autarquia para a Segurança Social e que esta apresentou como única proposta de realojamento um centro temporário de abrigo. Mas a própria assistente social terá desaconselhado esta solução, segundo conta.

A Câmara da Amadora alega, por sua vez, que a família se mudou para o bairro "há poucos dias" e que só agora teve conhecimento da situação. "A casa que ocupou pertencia a outra família, que foi realojada no início do ano, e estava sinalizada para demolição", responde a assessora de imprensa da autarquia, acrescentando que cabe à Segurança Social encontrar soluções para as famílias que não residiam no bairro há 22 anos, quando foi criado o Programa Especial de Realojamento (PER), e que, por isso, não têm direito a uma habitação social.

Segundo a câmara, já foram realojadas 327 famílias que viviam em Santa Filomena e falta resolver a situação de 18 agregados inscritos no PER. Para os restantes casos, diz que esgotou "todos os apoios possíveis por recusa das próprias famílias". O problema é que "não têm sido dadas soluções para famílias inteiras" e para os seus pertences, contrapõe Ana Cansado, da União das Mulheres Alternativa e Resposta.

Rita Silva, do Habita, acusa Carla Tavares de ceder a interesses privados e de "amigos", uma vez que os terrenos em causa pertencem a um fundo de investimento imobiliário, gerido pelo BCP e pelo empresário José Guilherme. A autarquia responde que "parte dos terrenos são propriedade municipal" e que "até ao dia de hoje" não recebeu "qualquer pretensão urbanística para aqueles terrenos".

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