Presidente da Argentina vai deixar a política mas quer manter o poder

Impedida de se recandidatar a um terceiro mandato Cristina Kirchner escolheu “a dedo” os nomes da lista e a equipa do seu sucessor na corrida à presidência.

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Kirchner e o seu candidato presidencial, Daniel Scioli Reuters

A possibilidade do nome de Cristina Fernández de Kirchner figurar entre os candidatos a um lugar no Parlamento da Argentina esteve no ar até bem perto do meio-dia de sábado, o prazo limite para a apresentação das listas para as eleições primárias, marcadas para Agosto. Mas a Presidente, a terminar o segundo e último mandato, decidiu não o fazer e afastar-se da política activa, pelo menos oficialmente - ao escolher uma vasta rede de nomes de confiança quer manter a influência da família e, de algum modo, o poder dos Kirchner.

Desde a escolha do seu filho para concorrer a um lugar como deputado, até à de Carlos Zannini, “homem de confiança dos Kirchner”, para o cargo de vice-presidente, são vários os candidatos “kirchneristas” da aliança política Frente para a Vitória ao Congresso.

“O Congresso será a nova sede de poder do ‘kirchnerismo’”, publica o jornal argentino La Nación. Foram doze os anos em que a família Kirchner esteve na presidência da Argentina, somando os oito de Cristina aos quatro de Nestor, seu marido.

A impossibilidade constitucional de se recandidatar a um terceiro mandato consecutivo, nas eleições de Outubro, não impediram a actual Presidente de fazer esforços para manter a influência da família no poder. Nas últimas semanas, a opinião pública argentina foi alimentando a notícia da possível candidatura da Presidente ao Congresso, ao parlamento do Mercosul (Parlasur) ou ao cargo de governadora de Buenos Aires, mas o mistério foi desfeito com a revelação das listas para as eleições primárias de Agosto, reveladas no domingo.

Cristina deixará a política activa em Dezembro de 2015, data em que um novo chefe de Estado assumirá funções. Mas, segundo La Nación, o seu “núcleo duro mudar-se-á do poder executivo para o Congresso, (…) com Máximo Kirchner à cabeça”. O filho de Cristina e do anterior Presidente, que morreu em 2010, integrará uma “legião ultra-reforçada de jovens de La Cámpora”, o movimento político afecto ao “kirchnerismo”, nascido em 2006, assim como "funcionários-chave" dos últimos 12 anos de Governo, como o ministro da Economia, Axel Kicillof. Máximo Kirchner irá concorrer às eleições pela província de Santa Cruz, origem e bastião da família Kirchner.

O apoio de Cristina Fernández à candidatura presidencial “oficialista” de Daniel Scioli, um político que não reúne a simpatia de todo o clã Kirchner, mas que se apresenta como a melhor opção para a sucessão, também está a ser minuciosamente preparado pela Presidente. Segundo o jornal espanhol El País, o plano consiste em rodear Scioli de “fiéis”, de forma a “impedir” que este “abandone a linha económica” actual e que dê espaço à concretização do grande plano de Cristina - dar “continuidade ao ‘kirchnerismo’, sem um Kirchner no poder”, como escreve o jornal espanhol.

A escolha de Carlos Zannini, actual secretário da presidência, “um homem chave” do actual Governo e um “colaborador dos Kirchner há mais de 30 anos”, como candidato ao cargo de vice-presidente, foi visto no país sul-americano como uma autêntica “exibição de poder” e um “sistema sólido de resguardo político”, na descrição de um colunista do Clarín. Acrescenta La Nación que os “kirchneristas” sonham com um cenário: “Scioli com o governo mas a Cristina com o poder”.

Scioli, actual governador da província de Buenos Aires, terá ainda de derrotar, nas primárias de Agosto, o outro candidato “oficialista”, Florencio Randazzo, antes de medir forças com o principal candidato presidencial da oposição, Mauricio Macri, da Proposta Republicana e actual presidente da câmara de Buenos Aires.

Texto editado por Ana Gomes Ferreira

 

   

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