Militares golpistas do Burundi renderam-se e foram presos

Desfecho não deverá acabar com a crise política no país, motivada pela intenção de Nkurunziza de concorrer a um terceiro mandato.

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Manifestantes contra a candidatura do Presidente a um terceiro mandato Goran Tomasic/Reuters

As autoridades do Burundi prenderam o líder de uma tentativa falhada de golpe de Estado, o general Godefroid Niyombare, e o Presidente, Pierre Nkurunziza, que estava na Tanzânia quando o levantamento foi anunciado, na quarta-feira, regressou ao país. Mas as manifestações contra o chefe de Estado voltaram a alguns bairros da capital, Bujumbura.

“Foi preso, não se rendeu”, disse à Reuters o porta-voz da Presidência, Gervais Abayeho. Para além de Niyombare foram presos três outros responsáveis militares e da segurança – um deles o antigo ministro da Defesa, Cyrille Ndayirukiye – depois de uma noite e um dia de confrontos em que não era possível perceber quem estava a dominar, a situação.

Na véspera, Niyombare disse por telefone a um jornalista da AFP que se ia render. “Espero que não nos matem”, desabafou. O antigo ministro da Defesa reconhecera, na quinta-feira à noite, que o golpe tinha falhado. “Encontrámos uma grande determinação militar para apoiar o sistema no poder”, disse.

O porta-voz presidencial afirmou que o líder golpista será levado à Justiça. Um oficial superior da polícia repetiu a mensagem, dizendo que nem ele nem os restantes golpistas serão mortos.

Nkurunziza tentou regressar ao Burundi no dia da tentativa de golpe, mas não conseguiu aterrar porque os golpistas tinham encerrado o aeroporto de Bujumbura. Só na manhã desta sexta chegou à capital, vindo de Ngozi, 140 km a nordeste, onde passou a noite depois de ter regressado da Tanzânia por via terrestre.

A derrota dos golpistas não deverá acabar com a crise política no país – o Presidente Nkurunziza tinha saído do Burundi para participar justamente numa conferência com o objectivo de discutir a instabilidade após o seu anúncio de que iria concorrer a um terceiro mandato.

A Constituição só permite dois mandatos de líderes escolhidos por voto popular, e Nkurunziza já cumpriu os dois. Mas o Presidente argumenta – e os tribunais concordaram – que como para o primeiro foi nomeado pelo Parlamento, ainda pode concorrer a mais um. Protestos contra a decisão e violência após o anúncio da recandidatura fizeram, no final de Abril, 20 mortos. 

O anúncio terá também sido a causa da tentativa de golpe – o general  Niyombare tinha aconselhado Nkurunziza a não concorrer e o Presidente afastou-o da direcção dos serviços de informação.

Na manhã desta sexta-feira um colectivo contra um terceiro mandato de Nkurunziza apelou ao recomeço dos protestos, que voltaram a alguns bairros da capital. “Parámos as manifestações enquanto houve confrontos com armas pesadas”, disse Vital Nshimirimana, líder de um grupo “anti-terceiro-mandato”. “Agora apelamos à mobilização dos cidadãos e ao recomeço das manifestações.”

Quatro antigos chefes de Estado – Jean-Baptiste Bagaza, Sylvestre Ntibantunganya, Pierre Buyoya, e Domitien Ndayizeye – consideram também “anti-constitucional” a candidatura  e pensam que “arrisca comprometer as conquistas da paz” conseguidas desde o fim da guerra civil, em 2006. A sua posição foi conhecida nesta sexta-feira mas fora tomada na segunda-feira, dois dias antes da tentativa de golpe.

A tensão pré-eleitoral não tem parado de aumentar e levou já mais de cem mil burundianos a procurarem refúgio em países vizinhos, nas últimas semanas, segundo as Nações Unidas.

O Burundi terminou há dez anos uma guerra sangrenta que, entre 1996 e 2006, opôs grupos de rebeldes da maioria hutu, incluindo um liderado por Nkurunziza, e as forças armadas então controladas pela minoria tutsi.  

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