Consumo de bebidas energéticas disparou em Portugal

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Vinte por cento das bebidas consumidas no país são misturadas com álcool, o "cocktail" mais popular é com vodka David Clifford/Público

Em quatro anos, o mercado das bebidas energéticas em Portugal cresceu uma média de 40 por cento por ano. Para este ano, a Red Bull (que representa 98 por cento da quota de mercado) espera um aumento de vendas de 69 por cento.

Vendido para repor energias em situações de fadiga, está generalizado na noite. A mistura com álcool, que traz riscos, está expandida e já há discotecas a vender bebidas energéticas com o seu logotipo.

A bebida é procurada sobretudo nas zonas urbanas, por estudantes em época de exames, executivos com a vida muito preenchida e, claro, por noctívagos que querem afastar a fadiga e prolongar a noite.

É nesta última fatia de público que reside a sua grande popularidade: 80 por cento do consumo é em bares e discotecas. Nestes ambientes, começa agora a fazer parte de "cocktails" energéticos. A mistura com vodka é a mais popular em Portugal, diz Filipa Moura, responsável de comunicação da Red Bull portuguesa, acrescentando que a mistura com álcool representa apenas 20 por cento do consumo. O restante é consumo isolado do produto.

A mistura com álcool traz riscos. Tanto o álcool como a bebida energética são diuréticos (promovem perda de líquidos), quando associados a exercício físico intenso como é a dança, em espaços quentes como são as discotecas, poderão conduzir à desidratação, alerta o nutricionista clínico Luís Maioral. Uma das mortes que ocorreu na Suécia, aconteceu precisamente neste contexto, depois de uma jovem ter consumo álcool com Red Bull. No "site" da marca alerta-se para o perigo da mistura, aconselhando a ingestão de água, mas a única indicação que a lata tem em Portugal é: "contém cafeína. Não recomendado a pessoas sensíveis à cafeína". Filipa Moura explica que a diferença entre as energéticas e isotónicas é precisamente o facto de as primeiras trazerem um acréscimo de energia, com base em estimulantes (que no mundo desportivo podem ser considerados dopantes), e as segundas, vocacionadas para os desportistas, acelerarem a reposição de líquidos.

Filipa Moura afirma que nunca ficou provado a associação entre as mortes e o consumo. Como tudo o que é novo, especula-se. A marca não promove a mistura com álcool, mas a Áustria é um dos países onde se alerta para o perigo na lata. Países como o Canadá pura simplesmente proibiram a venda.

Joaquim Sabino, da Associação dos Barmen de Portugal, afirma que a bebida energética é consumida a meio da noite, "para continuar a manter o ritmo". "Está vulgarizada. Por dá aquela palha, bebe-se uma". Nas revistas da especialidade aparecem cada vez mais novas marcas, novos cocktails em que são ingrediente, "é porque há mercado para elas", comenta. Quanto às misturas, são os curiosos atrás de balcões que as iniciam. Quem tem formação de hotelaria ou é barman profissional sabe que "bebidas mal casadas podem ter efeitos indesejados".

Também Paulo Ramos, presidente da Escola de barmen americana, afirma que os grandes misturadores começam por ser os barmen, mas depois "as marcas aproveitam a embalagem".

O nutricionista Luís Maioral afirma que a bebida começa agora a fazer o seu caminho no meio estudantil, em épocas de maior tensão. Se não for acompanhada de uma alimentação equilibrada e de descanso adequado, verdadeiras fontes de "energia", "pode sobrecarregar o organismo". Porque a hiperactividade provocada não provém dos açucares que contém, mas dos estimulantes (como a cafeína, o guaraná).

Uma lata por si só não trará grandes malefícios, os perigos associados à ingestão têm raiz no abuso e no mau uso. Embora a quantidade de cafeína numa lata de 250 ml de Red Bull seja de 80 mg, aproximadamente a mesma existente numa chávena de café, muitos jovens já consomem quantidades pouco saudáveis de cafés no dia-a-dia. Níveis altos de cafeína (a partir de cinco cafés) podem aumentar o ritmo cardíaco e a pressão sanguínea, causando palpitações, cansaço. Misturá-las com álcool, mais uma vez aumenta o risco de alterações do ritmo cardíaco.

A ânsia de partilhar o sucesso deste novo sector é grande. Em Portugal, como noutros países do mundo, a pioneira Red Bull (começou a ser vendida em Portugal em 1997) não parece não ser destronável. Mas as concorrentes estão a tentar novas estratégias: a venda de bebidas energéticas com o logotipo de um bar ou de uma discoteca é uma delas, afirma o presidente da Associação de Discotecas Nacional, Francisco Tadeu. "É a bebida da moda".

António Carlos, responsável da Perfect Image, uma empresa minhota que importou de Espanha as marcas "Ravel Energy", Jazz, Big Star, Power Fruit tentou uma nova estratégia: a personalização da lata com o nome e o design das discotecas ou bares. O preço é mais baixo que a Red Bull e as casas têm mais interesse em vender a bebida, porque também se estão a promover.

A Shark, a Sitting Bull, a Batttery e a Loucura são outras das marcas que partilham os outros dois por cento de mercado.

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