Liga Árabe discute força militar unificada

Reunião dos 22 países discute força de intervenção para confrontar ameaças regionais numa altura em que a coligação liderada pela Arábia Saudita intensifica ataques no Iémen.

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Os líderes saudita e egípcio estão entre os principais defensores de mais cooperação militar árabe para contrariar a influência do Irão Reuters

O Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, apoiou com o peso do seu país a criação de uma força militar unida da Liga Árabe para confrontar ameaças regionais, uma proposta em cima da mesa quando se intensifica uma ofensiva liderada pela Arábia Saudita no Iémen.

A intervenção militar saudita contra rebeldes xiitas tidos pelos árabes como instrumentalizados pelo Irão é aliás vista como um “teste” a uma força deste género. Apesar de ser descrita como uma força de intervenção rápida para reagir contra grupos terroristas como o autodenominado Estado Islâmico, todos vêem maior motivo na tentativa de contrariar o poder do Irão (cujas conversações sobre o nuclear estão prestes a terminar e, se tiverem sucesso, poderão significar o fim de sanções que têm enfraquecido o país, pelo menos economicamente).

Riad lidera uma coligação de dez países – a maioria seus aliados no Golfo, mas não só – em resposta contra o avanço dos rebeldes xiitas huthis, apoiados pelo Irão (Teerão nega financiar e apoiar os huthis).

Há meses que os huthis avançavam no terreno no Iémen até que a Arábia Saudita, que partilha uma grande fronteira com o país, decidiu que não toleraria o desafio iraniano mesmo à sua porta e começou ataques aéreos na madrugada de quinta-feira, juntando entretanto uma coligação com países desde aliados tradicionais a outros mais improváveis como Marrocos ou o Sudão.
Um responsável de um país do Golfo já disse sob anonimato à Reuters que o tempo previsto inicialmente para as acções – um mês – parecia agora demasiado curto e que as operações se estenderiam até talvez seis meses.

A tentativa de conseguir uma força militar única regional na Liga Árabe (22 países sobretudo sunitas) enquadra-se na tentativa saudita de tentar impedir a influência regional do Irão e estava prevista na agenda do encontro – havia já um acordo de princípio para uma força de intervenção rápida dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Liga. Esta é a primeira reunião da Liga em que participa o novo monarca, Salman al-Saud, que herdou a coroa em Janeiro após a morte do seu irmão Adullah.

O rápido e forte apoio egípcio à acção saudita mostra o cimentar de uma aliança interrompida após o período em que a Irmandade Muçulmana liderou o Egipto. 

O mundo árabe enfrenta hoje ameaças sem precedentes, defendeu o general Sissi, aludindo, mas sem mencionar directamente, a influência iraniana. O Presidente do Egipto aproveitou também para defender a participação militar do país na campanha no Iémen, contra as milícias xiitas houthi, explicando que o objectivo é “preservar a unidade do Iémen e a paz no seu território” e que a acção se tornou “inevitável” pela intervenção de um país estrangeiro. O Cairo já admitiu enviar tropas para o terreno se necessário.

Antes, o Presidente do Iémen, Abd-Rabbu Mansour Hadi, tinha classificado os huthis como “marionetas do Irão” e dirigiu-se directamente ao movimento: “Vocês é que destruíram o Iémen com a vossa imaturidade política”, declarou Hadi na reunião de Sharm el-Sheikh.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, dirigiu-se à assembleia para pedir que os países aceitassem negociações mediadas pela ONU. “Negociações – facilitadas pelo enviado especial Jamal Benomar e apoiadas pelo Conselho de Segurança – são a única hipótese de impedir um conflito longo que se arraste”. Ban mencionou ainda a guerra na Síria, repetindo que está envergonhado pelo falhanço em fazer parar esse conflito (outro em que o Irão, directamente e através do Hezbollah, tem tido influência, apoiado as forças leais ao Presidente Bashar al-Assad).

 

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