Stan Douglas expõe em Outubro no Museu Berardo

O filme que o artista canadiano tem estado a rodar em Lisboa é um projecto que desde 2008 vem desenvolvendo com Pedro Lapa, o director do museu.

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Exposição de Stan Douglas no Museu do Chiado Adriano Miranda

Vem de longe a cumplicidade entre Pedro Lapa, hoje director do Museu Berardo, e Stan Douglas, o conhecido artista plástico canadiano. Houve, há 15 anos, a exposição de Der Sandmann no Museu Chiado, onde Lapa estava à época.

E, depois, houve os vários projectos com a Fundação Ellipse, de que Lapa foi curador. O Agente Secreto, o filme que Stan Douglas tem estado a rodar em Lisboa, nasceu aí, na Ellipse, em 2008. Com o “caso BPP” acabou por ver o seu destino adiado. Até agora. Stan Douglas faz a 21 de Outubro no Museu Berardo a estreia mundial dessa sua grande instalação rodada como longa-metragem e financiada pela galeria David Zwirner.  

Intitulada Interregnum, a exposição em que esta obra será apresentada reune três peças ligadas à história contemporânea portuguesa. O Agente Secreto adapta ao Verão quente de 1975 o livro homónimo de Joseph Conrad, o autor do celebrado O Coração das Trevas. É uma releitura da narrativa que, originalmente, decorria na Londres de 1886. Nessa narrativa original, Verloc, a personagem principal, é um agente secreto (e provocateur) cuja profissão de fachada é a gestão de uma loja de material pornográfico. Está infiltrado numa célula anarquista quando lhe é atribuída a missão de fazer explodir o Observatório de Greenwich. No guião de 100 páginas de Stan Douglas, Verloc percorre a Lisboa do PREC.  

Com actores como Miguel Guilherme, Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Marcello Urgeghe, Filipe Vargas, Carloto Cotta e Simão Cayatte e produção a cargo da O Som e a Fúria, de Luís Urbano (a mesma de realizadores como Manoel de Oliveira, Miguel Gomes, Sandro Aguilar ou Salomé Lamas), O Agente Secreto, rodado em inglês, foi filmado em espaços como o antigo cinema Nimas, o Palácio Foz e o Bairro dos Anjos. Supõe-se que seja transformado numa espécie de corredor de imagem que o público atravessará como se percorresse a narrativa.

Segundo Pedro Lapa, quando a encomenda original foi feita a Stan Douglas e se lhe pediu que trabalhasse a realidade portuguesa, o artista quis perguntar o que tinham os portugueses oferecido de melhor ao século XX. À falta de uma ideia sobre isso, o 25 de Abril de 1974 foi-lhe proposto como “momento magnífico”. O livro de Joseph Conrad foi “apport” do próprio. 

As outras duas peças da exposição ligam-se também à história portuguesa, mais concretamente a aspectos do processo de descolonização: Disco Angola, apresentado pela primeira vez em 2012 na galeria David Zwirner, que representa o artista em Nova Iorque, é um projecto de encenação fotográfica que Stan Douglas data de entre 1974 e 1975 em Nova Iorque e Luanda; Luanda-Kinshasa, também pela primeira vez apresentada na David Zwirner (em 2014), é uma projecção fílmica – e musical – em que o artista propõe a materialização de uma possibilidade que nunca aconteceu: Miles Davies a gravar um álbum em que funde afro beat com free jazz.

 

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