Portugueses doaram mais de 50 toneladas de roupa a crianças refugiadas da Síria

Cáritas pretende enviar o primeiro carregamento, de 15 toneladas, até ao fim da próxima semana.

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Refugiados sírios na Jordânia: dezenas de milhares já passaram a fronteira Khalil Mazraawi/AFP

A adesão dos portugueses à campanha lançada pela Cáritas, para angariação de vestuário e cobertores para as crianças refugiadas da Síria, superou todas as expectativas, permitindo recolher 50 a 60 toneladas de agasalhos, entre 17 de Fevereiro e a última quarta-feira.

O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, admitiu que a adesão surpreendeu de forma positiva a organização, que está agora a “tentar encontrar recursos para que toda a roupa" doada chegue aos seus destinatários.

Cada diocese está a organizar as suas embalagens de bens doados e a Cáritas, auxiliada pelo Exército, vai percorrer o país para recolher os agasalhos acumulados. Até serem enviadas para as zonas mais necessitadas, as roupas vão permanecer guardadas em dois armazéns do Exército.

"Queremos que no fim da próxima semana saia já o primeiro carregamento, por via aérea, ainda não sabemos se para o Líbano se para a Jordânia, porque estamos em contacto o com Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados [ACNUR] para saber qual é a prioridade", referiu o presidente da Cáritas Portuguesa.

A Cáritas vai suportar os custos de deslocação, para que as crianças, que segundo um estudo da UNICEF “estão em risco de morte e necessitam de tratamento imediato para sobreviver”, tenham acesso aos bens o mais cedo possível, para enfrentarem o Inverno rigoroso deste ano.

Os refugiados da Síria concentram-se especialmente em países próximos, como a Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egipto, onde se encontram cerca 3,8 milhões de pessoas, 95% dos refugiados sírios, segundo dados da Amnistia Internacional. Quase dois milhões são menores, mas, segundo Eugénio Fonseca, “a violência e as deslocações forçadas terão transtornado profundamente a vida de mais de sete milhões” de crianças, mesmo que nem todas tenham saído daquele país.

A iniciativa da Cáritas Portuguesa decorreu no mesmo mês que Cecilia Wikström, eurodeputada liberal sueca, denunciou a falta de apoio que a Europa presta aos refugiados sírios. Num artigo publicado no site EUObserver, a eurodeputada lamentou que ainda não existam “maneiras legais que permitam aos refugiados chegarem à Europa para procurar asilo”. Esta situação deve-se, essencialmente, ao facto de os pedidos de asilo só poderem ser solicitados quando a pessoa já se encontra no território do país de acolhimento.

Em Setembro do ano passado, o comissário Europeu para a Migração e Assuntos Internos, Dimitris Avramopoulos, tentou, sem sucesso, implementar medidas que dessem às delegações da União Europeia em países terceiros a capacidade de processar pedidos de asilo directamente. A situação já levou António Guterres, Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, a considerar o sistema europeu de asilo “disfuncional”, por não conseguir auxiliar os lesados por aquilo que designa a pior crise de refugiados e deslocados desde a II Guerra Mundial.

A UNICEF considera que a situação nesses países vizinhos da Síria representa “a maior emergência dos últimos tempos para as crianças”. No mesmo sentido, a Cáritas Portuguesa explica que pretendeu “dar expressão ao valor da solidariedade e da cooperação inter-religiosa, perante uma emergência humanitária como a que atinge a população refugiada síria".

No ano passado, a agência da ONU para refugiados proporcionou ajuda alimentar a  1,7 milhões de pessoas. Os campos de refugiados do ACNUR acolheram mais de 400 mil pessoas, garantindo o acesso à escola de 350 mil crianças.

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