Um susto de Proust

Um filme que deve tudo à horripilante tradição da linha Amélie Poulain.

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Cinecartaz: Trailer Attila Marcel

Foi com dois filmes de animação – Belleville Rendez-Vous e O Mágico – feitos em estilo “antigo”, sóbrio e elegante, que o realizador francês Sylvain Chomet se tornou conhecido.

A passagem para a “acção real” e para os actores de carne e osso não está a correr tão bem. Já tínhamos visto o seu fraquíssimo episódio do filme de sketches Paris Je T’Aime, e agora temos este penoso Attila Marcel, primeira longa-metragem de “acção real” por ele assinada.

Abre com uma citação de Proust – lançando o tema da “memória”, depois reforçada pela existência de uma personagem que é a Madame… Proust – mas logo a seguir começa o susto, com uma grotesca cena que se vem a revelar ser um pesadelo do protagonista. O onirismo e o flash-back “mental” são essenciais na estrutura do filme, maneira de, entre psicanálise farsolas e “madalenas”, levar o protagonista – um pianista que emudeceu em criança, depois da morte dos pais – a reencontrar o momento do trauma.

Explicado assim, parece paródia a Garrel. E antes fosse, porque Attila Marcel, nos seus modos de musical ligeiro e comédia “mágica”, cheio de personagens-bonecos sem nenhuma densidade real, é um filme que deve tudo à horripilante tradição (recente) da linha Amélie Poulain, totalmente incapaz de recuperar a sobriedade dos filmes de animação de Chomet, substituída por uma acumulação de efeitos visuais sem tino nem graça. Há uma única razão válida para suportar “Attila Marcel”: dizer adeus a Bernadette Lafont, “musa” da nouvelle vague e dos seus filhos (Garrel ou Eustache), que morreu em 2013, pouco depois do final da rodagem, e de quem este foi o último filme.

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