Erdogan promove o regime presidencialista na Turquia

Este é um ano decisivo para o país. O Parlamento que sair das eleições de Junho pode mudar a Turquia e o regime político.

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Erdogan presidindo ao primeiro Conselho de Ministros do ano AFP

Recep Erdogan quer que a Turquia tenha um regime presidencialista. Enquanto espera pela mudança da Constituição, vai praticando – nesta segunda-feira, presidiu ao Conselho de Ministros, um gesto que foi denunciado pela oposição como prova de que é ele quem governa e não o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu.

Em teoria, Erdogan – que foi eleito Presidente em Agosto de 2014, depois de ter estado mais de dez anos no cargo de primeiro-ministro – tem o direito de presidir ao Conselho de Ministros; a Constituição permite-o. No passado, houve outros cinco chefes de Estado que o fizeram, o últimos deles foi Suleyman Demirel (1993 a 2000), o que quer dizer que há 14 anos que isso não acontecia.

Os anteriores chefes de Estado, Ahmet Necdet Sezer e Abdullah Gul, não saíram do papel cerimonial que a Constituição confere ao Presidente, um papel que Erdogan não quer para si, como deixou claro antes e depois de vencer as presidenciais – foi a primeira vez que os eleitores escolheram, por voto directo, o chefe de Estado e a sua vitória, disse, foi um mandato do povo para governar e não apenas para se mostrar. Por isso, continuaria a ser ele o homem forte da Turquia.

Quando assumiu o cargo de primeiro-ministro, em 2003, Recep Erdogan chegou a ser considerado um modernizador, o homem que iria juntar definitivamente a Turquia à Europa. Do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico e económico, o país progrediu durante os seus mandatos, mas assistiu-se a uma mudança no paradigma político-social. A Turquia deixou de ser uma democracia secular, passando a ser governada por um regime conservador islâmico. Erdogan, acusou a oposição, foi-se tornando um autocrata (limitou a liberdade de imprensa e de expressão e quer limitar a participação das mulheres na sociedade) e prepara-se agora para oficializar a concentração de todo o poder nas suas mãos.

Tudo se jogará este ano, dizem os analistas, daí o simbolismo que foi presidir ao primeiro Conselho de Ministros de 2015. Em Junho, realizam-se eleições legislativas na Turquia. As sondagens dizem que vencerá o partido de Erdogan, que espera obter a maioria necessária para, até ao final do ano, fazer aprovar uma nova Constituição que mudará o país e o regime político.
 

  

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