O cosmos afectuoso de Panda Bear

A cada novo lançamento consegue soar, em simultâneo, familiar e diferente. O que só pode ser muito bom

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Dez anos depois de ter chegado a Lisboa continua com universo tão introvertido quanto desejoso de gerar comunicação Fernanda Pereira

Na entrevista que publicámos a semana passada com Noah Lennox, ou seja Panda Bear, este referia mais do que uma vez que tinha uma preocupação central quando partia para a feitura de um novo álbum: não se repetir. Sublinhava até que tinha receado voltar a trabalhar com Peter Kember (Sonic Boom) na co-produção do disco precisamente por essa razão. 

No seio do seu grupo, os Animal Collective, pressente-se que essa preocupação também está muito presente, mas a verdade é que ao longo dos anos Noah Lennox tem sabido procurar novos territórios sónicos, ao mesmo tempo que vai tornando a sua música mais inteligível, o que não significa domesticá-la. 

Mais uma vez se constata isso no novo Panda Bear Meets The Grim Reaper, um álbum talvez mais próximo de Person Pitch de 2007, na forma como a bricolagem sonora de sensibilidade pop é trabalhada, do que o anterior Tomboy de 2011. Ou seja é, mais uma vez, um disco onde se reúnem muitas das características que se lhe reconhecem (as harmonias vocais, os efeitos dub, os climas psicadélicos ou a pureza expressiva), mas trabalhadas de uma forma mais transparente e comunicativa. 

É talvez o seu álbum mais expansivo, com canções povoadas por elementos melódicos que exalam optimismo, embora nas letras a morte e as dores do passado se intersectem com apreensões em relação ao futuro, criando um presente lúcido. 

Do ponto de vista sónico, como o próprio Noah Lennox descreve, é como se atirasse intuitivamente diferentes motivos musicais para uma parece branca (dub, electrónicas, pop) e fosse compondo um cenário afectivo a partir dessa desordem. 

E o que daí nasce é francamente estimulante, seja expresso em canções mais comunitárias e dinâmicas ritmicamente como Butcher baker candlestick maker ou Come to your senses ou próximas de um intimismo mágico como em Tropic of cancer ou Lonely wanderer, ou ainda da canção pop electrónica mais clássica como Príncipe Real ou Mr Noah

Dez anos depois de ter chegado a Lisboa continua com universo próprio, tão introvertido quanto desejoso de gerar comunicação, conseguindo a cada novo lançamento soar, em simultâneo, familiar e diferente, o que só pode ser muito bom. 

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