Steve McQueen, cineasta de raça para os European Film Awards, homenageado em Riga

Na noite dos prémios de cinema europeu, este sábado, na Letónia, a distinção para uma contribuição europeia para o cinema mundial.

Foto
Em 2003, Steve McQueen esteve em Serralves, no Porto, quando ainda era um artista plástico

Mas ao contrário do que aconteceu com Von Trier, Almodóvar ou Polanski, McQueen recebe este prémio tendo apenas três longas-metragens na sua filmografia: Fome (2008), Vergonha (2011), 12 Anos Escravo – mas é claro, tem também um Óscar, um BAFTA (prémios do cinema britânico) e um Turner, atribuído ao artista plástico.

Está garantida a sua posição como um dos mais importantes cineastas da actualidade, é isso o que quer dizer o prémio dos EFA. Mais concretamente: “Steve McQueen representa o futuro do cinema europeu de várias maneiras. Ele é um visionário e fiel à tradição do cinema europeu nunca foge dos assuntos difíceis. Ele desafia-os e ao fazê-lo desafia a audiência", disse ao jornal britânico Guardian o produtor Mike Downey, presidente do júri dos EFA, explicando por que é que foi decidido distinguir McQueen nesta fase da sua carreira.

Mas curiosamente... o próximo projecto do cineasta de 45 anos parece afastá-lo dos temas polémicos e provocadores (o IRA e a Irlanda do Norte, a dependência sexual, a escravatura...), em direcção ao filme de género, o thriller. McQueen está a escrever um argumento baseado numa série de TV dos anos 1980, Widows, que via em criança. Segundo o seu produdor, Brad Weston, há uma evidente intenção em exercitar-se num cinema mais comercial (os dois chegaram a falar de um musical) mas aliciou-o o facto de as personagens serem três mulheres, o que lhe permitirá uma abordagem mais desopilante ao gangster movie.

É um cineasta de muitos projectos: realizou um episódio-piloto para uma série da HBO, Codes of Conduct, sobre a entrada de um jovem negro de Queens para a alta sociedade novaiorquina – a série ainda não teve luz verde do canal –, e há planos para uma série da BBC sobre a experiência afro-caribenha na Grã-Bretanha, dos anos 1960 até hoje. O próprio falou várias vezes no interesse em fazer um filme sobre Paul Robeson, filho de um escravo que se tornou advogado, estrela do futebol universitário, performer e activista que foi perseguido na América de McCarthy. Isto serve a Mike Downey, dos EFA, para, na justificação da sua decisão, argumentar que não há inconsequência nem fogo-de-artifício gratuito no trabalho de McQueen, já que é "o fascínio pela condição humana e a situação que a rodeia que puxa pelas suas ambições cinematográficas." Diz mais Downey: que o "grande assunto" neste século XXI "é a raça". "Não é só Ferguson, Missouri, que nos diz isso. O racismo ainda mancha o sonho americano e um cineasta como McQueen estará sempre à altura dos desafios que a actual situação provoca".

Esta noite, em Riga, títulos como Leviathan, de Andrey Zvyagintsev, Winter Sleep, de Nuri Bilge Ceylan, Ninfomaníaca, de Lars von Trier, Force majeure, de Ruben Östlund ou Ida de Pawel Pawlikowski, podem ser considerados o melhor filme europeu do ano, e serem premiados actores como Charlotte Gainsbourg, Marion Cotillard, Valeria Bruni-Tedeschi, Tom Hardy ou Timothy Spall. Ou ainda, a curta-metragem portuguesa Taprobana, de Gabriel Abrantes, comédia e sátira em torno do poeta Luís Vaz de Camões, deslocado no Oriente, onde se apaixona por Dinamene, uma cortesã chinesa, enquanto escreve Os Lusíadas.

Sugerir correcção
Comentar