Grécia antecipa presidenciais em aposta de risco

Governo grego marca escolha do Presidente para 17 de Dezembro e coloca possibilidade de legislativas em Janeiro.

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Antonis Samaras no Parlamento: como irá o primeiro-ministro conseguir a maioria necessária para eleger um presidente? Angelos Tzortzinis/AFP

O primeiro-ministro grego decidiu antecipar a votação, no Parlamento, do próximo Presidente do país, uma aposta de risco, já que, se não for possível a aprovação por uma maioria de no mínimo 180 votos, o Parlamento é automaticamente dissolvido e serão convocadas eleições antecipadas.

Numa altura em que as sondagens dão maioria ao principal partido de oposição, o Syriza (Coligação de Esquerda Radical), que questiona o programa da troika, em que a coligação no Governo está longe de garantir os 180 votos, esta parece uma aposta arriscada. O Governo anunciou entretanto o seu candidato: Stavros Dimas, do Nova Democracia, antigo comissário do Ambiente.

O anúncio foi feito, por outro lado, pouco depois de se saber que o Eurogrupo aprovou um pedido da Grécia de uma extensão de dois meses do programa da troika.

A votação para a presidência será, assim, levada a cabo em Dezembro e não em Fevereiro como estava originalmente planeado. Se não houver maioria para um presidente em três rondas de votação, a primeira das quais já no dia 17, a assembleia é dissolvida e as eleições legislativas realizar-se-ão em Janeiro.

Responsáveis gregos dizem que é altura para acabar com a “incerteza” e trazer “clarificação política” à Grécia. De facto, há meses que as presidenciais são discutidas no país, pois poderão ter o potencial de mudança – embora analistas também sublinhem que, se o Syriza vencer as eleições, poderá ter o mesmo problema de falta de maioria para eleger um presidente.

Responsáveis dizem que esta decisão de antecipar o voto pode ser sinal de que afinal o Governo conseguiu convencer alguns partidos a votar consigo e somando aos seus 155 deputados chegar assim a uma maioria. O Governo apostará nos 24 deputados independentes, que tentará convencer com o argumento já usado noutras eleições contra o Syriza: uma vitória do partido antiausteridade significaria um período de incerteza. Mas os gregos também estão fartos dos seis longos anos de recessão, e os partidos na oposição já disseram que iriam votar contra qualquer escolha do executivo para Presidente. Outra hipótese para o Governo vencer são deputados rebeldes que votem contra a orientação do partido. 

Fortalecer posição nas negociações
O primeiro-ministro, Antonis Samaras, no poder desde Setembro de 2012, após duas eleições (a primeira não resultou num governo), tem apostado a sua sobrevivência na saída do odiado programa da troika, mas o plano não está a correr como esperado, com a última avaliação do programa por finalizar (e assim a última tranche suspensa), a Grécia criticada por reformas não concretizadas, e as condições para uma linha de crédito pós-programa a demorarem a concluir. A extensão de dois meses agora conseguida foi vista como uma vitória para Atenas, dando tempo adicional para uma saída, mas não demasiado tempo na óptica do executivo grego, os seis meses defendidos pela Comissão Europeia.

Ao antecipar a votação para o Presidente, Samaras deve acreditar que tem maiores hipóteses de sucesso antes dessas negociações e dramatiza a escolha: a conclusão das negociações será feita ou pelo actual Governo ou por um executivo de um partido antiprograma da troika.

O Syriza reagiu regozijando-se com a antecipação das eleições, mas dizendo que esta decisão “é um esforço para esconder novas medidas [de austeridade] e de chantagear os deputados quanto aos seus votos”, disse em comunicado. “O Governo ficou sem argumentos”, declarou Panos Skourletis, porta-voz do partido. “O que quer que faça vai precisar de mais austeridade e esta é a melhor maneira de esconder isso do povo.”

O responsável da empresa de sondagens Alco Costas Panagopoulos disse que o Governo tomou uma decisão “certa”: “O dilema que se vai pôr perante os deputados e o povo grego vai fortalecer a posição da Grécia nas negociações [com a troika].”

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