A estatística que nos deveria envergonhar

Crise levou milhares a sair dos países do Sul da Europa. Cá o caso é mais grave, porque não é de hoje.

Passos Coelho foi esta segunda-feira visitar várias fábricas em Vagos e tentou passar a imagem de um país a criar emprego. Reconheceu que o desemprego ainda é elevado, mas recusou a ideia de que o desemprego esteja a baixar porque as pessoas emigram. Disse que Portugal tem sido um país de emigração desde há muitos anos e “hoje não é muito diferente de 2007 ou 2008”.

O primeiro-ministro tem razão quando diz que a queda do desemprego não se deve exclusivamente à emigração. É inegável que a economia tem dado alguns sinais de recuperação que tem permitido criar algum (pouco) emprego. Mas daí até tentar desvalorizar ou minimizar o problema da emigração vai um grande salto. Portugal é, no contexto europeu, o país com maior emigração. Os portugueses emigrados representam mais de um quinto (21%) da população residente. E o primeiro-ministro tem razão: a tendência não vem de hoje e é isso que nos devia preocupar.

Os dados da OCDE mostram que nos últimos anos têm sido sobretudo os mais velhos e os menos qualificados a sair do país. Mas mais preocupante ainda são os dados publicados esta segunda-feira pelo projecto Generation E e que dão conta que mais de 200 mil portugueses entre os 20 e os 40 anos deixaram oficialmente o país desde 2010. E o problema, dizem, é que esta estatística oficial sobre a emigração mais jovem pode estar a subestimar bastante a realidade, já que quase metade dos inquiridos que emigraram disse não ter registado oficialmente a mudança de residência.

Menos surpreendentes são as razões apontadas pelos mais jovens para abandonar o país: a esmagadora maioria fala em “questões laborais”. Jovens que foram “empurrados” para fora do país por uma economia que não cria emprego suficiente e que há mais de uma década está em recessão ou apresenta crescimento anémico. Esta é a estatística que realmente nos deveria preocupar e envergonhar.

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