Presidente avisa que novos fundos europeus são “oportunidade a não desperdiçar”

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Daniel Rocha
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“Uma oportunidade a não desperdiçar”, foi como o Presidente da República classificou, esta segunda-feira, o novo quadro comunitário de apoio, que o Governo baptizou de Portugal 2020. Cavaco Silva diz que é uma “prioridade nacional” canalizar essas verbas para as regiões menos desenvolvidas.

O chefe do Estado, que discursava na inauguração de um pavilhão multiusos da Santa Casa da Misericórdia de Borba, realçou que este quadro 2014-2020 prevê um reforço de verbas para as regiões menos desenvolvidas do país, “centrado no objectivo da competitividade das empresas e seu desenvolvimento e crescimento e na criação de emprego”. E vincou: “trata-se de uma prioridade nacional.”

Cavaco Silva defendeu depois que o país enfrenta actualmente o “desígnio” da “coesão territorial” e que as autarquias têm neste campo um “papel insubstituível”. E deixou o caderno de encargos para os presidentes dos municípios: “Cabe aos autarcas do nosso país aliar o conhecimento profundo e directo das necessidades das populações e das virtualidades do concelho a uma visão do futuro e a uma criatividade mobilizadora.”

A solução passa, aconselhou o Presidente da República, pelo trabalho “com os empresários e com os jovens, o apelo aos empreendedorismo e ao investimento”, que são “essenciais para que não se desperdice mais esta oportunidade que a integração europeia nos proporciona”.

Antes, Cavaco Silva havia destacado também o papel que as instituições de solidariedade como a Santa Casa da Misericórdia de Borba (SCMB) “podem e devem assumir na economia social das regiões em risco de desertificação humana”.

O Presidente acabara de fazer uma visita a alguns espaços da Aldeia Social da SCMB, uma propriedade de quatro hectares daquela instituição que tem ido crescendo na última década e meia com serviços e instalações que servem crianças e idosos, com jardim-de-infância, lar interno e lar de dia.

O desemprego “doído” de Borba
A SCMB presta actualmente apoio a cerca de 700 utentes numa população concelhia de 7200 habitantes, realçou o provedor, pouco antes, no seu discurso, acrescentando que para parte das 130 crianças do jardim de infância e da creche esta resposta social “é o seu único ponto de abrigo onde fazem a melhor refeição do dia”. O presidente da Câmara de Borba queixou-se do desemprego “doído” que assola a região e o concelho, por haver menos oportunidades do que perto das cidades grandes. Mas que quer, no entanto, mostrar que “tem condições para se viver” ali.

Cavaco Silva afirmou que o concelho de Borba reduziu, nos últimos 50 anos, em 70% o número de crianças e multiplicou por quatro o número de idosos. “É bom que as comunidades locais não esqueçam os segmentos mais frágeis da população e lhes proporcionem, depois de uma vida de trabalho e, quantas vezes de muito sacrifício, as condições para que tenham um envelhecimento com dignidade e bem-estar.”

Depois, numa espécie de recado geral, acrescentou ser necessário “olhar atentamente para a sustentabilidade demográfica destas comunidades, para as condições de segurança e estabilidade que permitam às famílias assegurar a renovação das gerações”.

Elogiou ainda o conceito da Aldeia Social de Borba por integrar no mesmo espaço de convivência idosos e crianças. Cavaco Silva visitou ambos. À chegada, depois de percorrer ruas empedradas cortadas ao trânsito e salpicadas de elementos da GNR, foi recebido pelas vozes da Tuna Sénior da SCMB, que cantavam a Açorda Alentejana, um tema popular escrito por um autor do Baixo Alentejo, o maestro Banza.

Das mãos pintadas ao hino dos pequenos
O Presidente percorreu os corredores do lar, espreitou quartos e visitou as salas do centro de dia. Quis saber se “há muitas situações de abandono de idosos” por ali, mas o provedor sossegou-o. Não, não há. Vários quadros com mãos coloridas de crianças da creche e do lar salpicavam as paredes da sala onde aguardam, sossegadas, de mãos no colo ou na bengala, mais de duas dezenas de idosos, sobretudo mulheres. Uma das mãos será de Gertrudes Pires, uma idosa que faz 91 anos no próximo dia 3, como contou ao Presidente – mas que a primeira-dama se apressou a dizer que “parecia uma menina” –, depois de o chamar até ao sofá que partilhava com outras senhoras, ao fundo da sala.

“Ó dr. Cavaco Silva!”, levantou a voz. O Presidente cumprimentou-a, quis saber se é bem tratada e Gertrudes desfiou o rol de coisas boas, da comida à farta – ficou até a saber que partilha o gosto por açorda com Cavaco Silva –, o asseio, a simpatia de médicos. Antes de receber os parabéns antecipados do Presidente ainda lhe disse que vão fazer uma festa e, pois então, “o dr. também cá podia vir…”

Mais à frente, depois de pelo menos 50 minutos de espera aos pouco agradáveis 12 graus que estavam em Borba, uma companhia especial: quase quatro dezenas de crianças, de bandeirinha em punho, aguardavam Cavaco Silva para lhe cantarem o hino nacional, um pouco desafinado e tímido a meio. Tomás Maria de cinco anos e um enorme pirata a decorar-lhe o bibe axadrezado, Carlota de cinco e Leonor de quatro, sabiam quem esperavam e o que tinham de fazer. As primeiras linhas do hino sabiam-no de cor. O senhor Presidente da República – assim mesmo, com toda a deferência – tirou uma fotografia com eles, entrou no edifício e eles lá voltaram, em filinha, de mão dada, para a sala.

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