Câmaras do Algarve ameaçadas de “apagão” digital por falência da Globalgarve

Empresa de serviços informáticos formada por câmaras, associações empresariais e bancos em risco de fechar.

No projecto destinado a criar uma rede regional digital foram investidos mais de nove milhões de euros. A empresa que geria o sistema entrou em insolvência. Posta à venda por 500 mi euros, ninguém lhe pegou

A agência de desenvolvimento regional  Globalgarve, onde foram gastos mais de nove milhões de euros de dinheiros públicos, foi declarada insolvente. O administrador judicial pôs a empresa à venda por 500 mil euros, mas não houve interessados. O presidente do conselho de administração cessante, Victor Guerreiro, responsabiliza as câmaras por deixarem afundar a sociedade de que eram accionistas:  “não pagam os serviços que lhes são fornecidos” .

Victor Guerreiro, também presidente da Associação de Comerciantes do Algarve – Acral, lançou nesta sexta-feira, em conferência de imprensa, um apelo aos “decisores públicos”  para que  salvem a empresa onde estão alojados os sites das principais entidades regionais -  além dos municípios,  também a Região de Turismo do Algarve e a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) estão dependentes desta empresa.

O dirigente associativo acha que o “processo ainda não está fechado” e que poderão vir a surgir interessados. Mas, por outro lado, considera  que é  “confusa” a forma como foram geridos os dinheiros públicos, na criação do  programa Algarve Digital, que não chegou a ser concluído. Questionado pelo PÚBLICO sobre a existência de eventual gestão danosa, respondeu: “Não tenho dados que me permitam responder concretamente, mas estanho” a situação.

O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, afirmou, por seu lado: “Enquanto maior accionista privado, não posso deixar de criticar o facto de os principais interessados, como é o caso da AHETA, não terem sido informados das várias etapas que conduziram ao desenlace mortal da Globalgarve”.  

Por seu turno, o  presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve – Amal, Jorge Botelho (PS) pediu na penúltima reunião daquele órgão um “mandado” aos outros presidentes dos municípios da região para poder negociar com o administrador judicial a compra da rede digital da empresa falida, por negociação directa,   pelo valor de 300 mil euros.

O autarca, ao justificar a proposta, dramatizou: “De um momento para o outro, podemos sofrer um apagão”. A questão não parece  pacifica. “Porque razão não é a própria CCDR [que financiou o  projecto, com fundos comunitários] a comprar a rede digital?”, perguntou o presidente da Câmara de Aljezur,  José Amarelinho (PS), lembrando que os municípios estão a ser convidados “a comprar um coisa que já tinham pago”, enquanto accionistas.  

Victor Guerreiro entende que os municípios estão a pagar o serviço que lhes é prestado, “abaixo do preço que custaria se fosse fornecido  pela Portugal Telecom ou outra concorrente”, na ordem dos 20 mil euros mensais. A poupança do último ano e meio, sublinhou, foi superior a 40%, mas não conseguiu equilibrar as contas, porque a dívida  atingiu 918.377 euros .  

A associação de comerciantes da região, que dirige,  também não está de boa saúde financeira. “Tem uma divida de 1,5 milhões de euros”. O empresário, com negócios  na área do  vestuário, prometeu em Abril de 2013, quando foi eleito presidente da Acral, publicar as constas da associação que se lhe afiguram “casos de policia”, envolvendo anteriores dirigentes, mas a promessa ainda foi cumprida.  

               

 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários