Usas a tecnologia? Para enriquecer, sim. Para ser sério, não

Quando se olha para um erro como o do árbitro de baliza no Schalke 04-Sporting, o primeiro impulso é dizer que aquele senhor não serve nada e que é apenas mais um a errar.

Passado esse primeiro momento, é racional acreditar que a introdução de árbitros de baliza trouxe vantagens ao futebol. São mais quatro olhos, numa zona muito sensível do campo, onde se passam muitas coisas e muito rapidamente.

Também é justo reconhecer que todos os que vêem futebol reparam mais no árbitro de baliza quando ele falha, como aconteceu em Gelsenkirchen, onde inacreditavelmente o juiz confundiu a cara de Jonathan Silva com a mão, estando a poucos metros do lance.

É que quando ele acerta, não o sabemos, porque não faz qualquer sinal, nem tem qualquer bandeira – comunica apenas, via rádio, com o árbitro principal. Por isso, a UEFA preparou um vídeo, a mostrar casos em que a intervenção do árbitro de baliza foi positiva.

Aceitamos como bons estes exemplos, mas, por outro lado, todos nós nos lembramos de maus exemplos. Como o de terça-feira. O que nos deve fazer subir um patamar nesta discussão: por mais árbitros que ponham em campo, é impossível eliminar o erro. Logo, por que não olhar para a tecnologia como um aliado na defesa da seriedade e não como uma ameaça?

A UEFA, a FIFA e as federações nacionais deram passos importantes na arbitragem nos últimos anos. Os árbitros nunca tiveram tão boas condições de treino e trabalho, ganham bem, dispõem de meios sofisticados para preparar os jogos. O que falta é avançar em dois campos. Um é a transparência nas nomeações e avaliações dos árbitros. Hoje sabemos todas as estatísticas dos jogadores, conhecemos os rankings dos clubes, mas dos árbitros nada sabemos. E de quem os avalia muito menos, o que só nos faz suspeitar ainda mais sobre o que se passa nos bastidores de um negócio que move milhões.

O outro campo em que é necessário acelerar é o da tecnologia como auxiliar dos árbitros. É que não se pode ficar pela tecnologia de baliza, para avaliar se a bola entrou ou não. O râguebi e o ténis já deram o exemplo. O vídeo-árbitro seria um precioso auxiliar. Haveria erros (como sempre e porque quase nada é unânime) mas certamente o futebol teria menos erros e mais verdade desportiva.

Um argumento usado muitas vezes pelos defensores do status quo é que esse recurso à tecnologia desvirtuaria a modalidade. Em primeiro lugar, um vídeo-árbitro não obrigaria assim a tantas paragens como se pensa. Em segundo, o futebol mudou muito nas últimas décadas: joga-se à noite, à semana e ao fim-de-semana, em relvados sintéticos e (imagine-se) até querem fazer um Mundial no Qatar, com temperaturas de 40 e 50 graus. Portanto, não há razão nenhuma (ou pelo menos nenhuma boa e séria razão) para que a UEFA e a FIFA queiram apenas a tecnologia para enriquecerem, como fazem com a transmissão dos jogos para todo o mundo e em várias plataformas. Também podem usá-la para tornar o jogo mais justo e honesto.

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