Morrissey e o cancro

O músico dá entrevistas contraditórias relativamente ao seu estado de saúde.

Foto
Antes do concerto no Coliseu dos Recreios, o cantor actuara pela última vez em Portugal no festival Paredes de Coura, em 2006 Paulo Pimenta

No mesmo dia, esta segunda-feira, em que se apresentou no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Morrissey afirmou, em entrevista ao espanhol El Mundo, ter sido tratado a um cancro não especificado. “Recolheram-me tecidos cancerosos em quatro ocasiões”, disse o cantor. “Se morrer, morri. Se não, pois bem, não", prosseguiu. "Neste momento sinto-me bem. Tenho consciência que nas últimas fotos que me tiraram não pareço muito saudável, mas isso é o que provocam as doenças. Não me vou preocupar com isso, descansarei quando estiver morto”.

Ressalve-se, porém, que em entrevista publicada na última edição do Expresso, lemos declarações de Morrissey que apontavam para uma situação substancialmente diferente. "Fiz quatro despistes de cancro e tudo estava bem, mas ouvimos a palavra cancro e assumimos imediatamente que o nosso tempo está a acabar", afirmou. "Se estiver, então está. Se não estiver, então não está. Da forma como as coisas estão hoje, posso dizer que o tempo me pertence", concluiu.

Nos últimos anos, a saúde do ex-vocalista dos Smiths tem sido notícia: uma úlcera e uma dupla pneumonia no início de 2013, intoxicação alimentar no verão do mesmo ano e, no último mês de Junho, uma infecção respiratória que o obrigou a cancelar parte de uma digressão americana. Um cancro, porém, nunca tinha sido referido ou sugerido. Desconhecendo-se a gravidade da situação e a extensão da doença, o certo é que Morrissey não está interessado em parar. Numa entrevista em que, como habitualmente, defendeu os direitos dos animais, aproveitando para atacar as famílias reais espanhola e britânica e as caçadas que promovem (o Rei Juan Carlos “deveria ter ido para a prisão por matar elefantes”, defendeu; “a família real britânica está obcecada com armas e morte”, acusou), Morrissey, 55 anos, afirmou que “muitos compositores de música clássica morrem com 34 anos, e eu aqui continuo, sem que saibam o que fazer comigo”.

Antes, porém, deu conta de que deveremos esperar a edição do seu primeiro romance, em que trabalha neste momento, no próximo ano. Aí chegados, então sim, talvez a música possa ser posta de lado. “Com sorte, poderei deixar de cantar para sempre, o que faria muita gente feliz”, provocou. 

Morrissey dará o segundo concerto da sua digressão europeia em Madrid, dia 9 de Outubro. Esta segunda-feira apresentou-se num Coliseu dos Recreios preenchido a três quartos da sua lotação, dois anos depois do cancelamento de uma actuação marcada para o Cascais Music Festival. World Peace Is None of Your Business, o álbum editado há alguns meses, preencheu a maior parte do alinhamento de um concerto em que os Smiths não foram esquecidos e em que o activismo pelo direito dos animais tomou a forma de um vídeo chocante, exibido durante a interpretação de Meat is murder.

Notícia corrigida às 19h04: Título alterado devido às notícias contraditórias quanto ao estado de saúde de Morrissey. Acrescentado parágrafo referente à entrevista de Morrissey ao semanário Expresso.

Sugerir correcção
Comentar