Algarve investe mais dois milhões a “engordar” praias de Lagoa e Albufeira

Manter a praia de Quarteira custa seis milhões de euros. Ao fim de dez anos desaparece a areia, volta tudo ao mesmo. E a construção de esporões, dizem os especialistas, não é alternativa.

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Apesar do turismo, o Algarve é a região onde se registam os valores mais elevados de desemprego Foto: Ricardo Silva

A praia de Quarteira, por exemplo, beneficiou de uma recarga de areias há quatro anos para se manter, que foram sugadas do mar. Das toneladas de detritos que foram depositados ao longo da costa, numa extensão de cerca de quatro quilómetros, já desapareceu 45%.

Agora, e à semelhança do que foi feito em 2010 em seis praias do concelho de Loulé — Vale do Lobo, Dunas Douradas, Vale Garrão, Forte Novo, Almargem e Loulé Velho, está a decorrer mais uma recarga de areia em Lagoa. O processo de realimentação para que as praias fiquem com uma largura de cerca de 40 metros começou no final de Agosto na Praia Nova, junto ao promontório de Nossa Senhora da Rocha (Lagoa), prevendo-se que dentro de um a dois dias termine o trabalho na praia da Cova Redonda, passando depois às praias da Coelha e do Castelo, em Albufeira. A operação deverá estar concluída até Novembro. Na fase final, são as praias de Benagil e Carvoeiro (Lagoa), as beneficiadas.

Mas será esta a solução? A principal fonte de alimentação das praias, recordou o director regional da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Sebastião Teixeira, “são as arribas, que caem de forma natural”. Só que este processo natural leva um tempo que não se coaduna com as exigências dos interesses ligados ao turismo, que reclamam a consolidação das arribas. Uma exigência que levou o Instituto da Água, há cerca de 15 anos, a tomar uma medida polémica no concelho de Albufeira: mandou forrar as arribas da praia dos Pescadores a betão, e pintar o cimento de cor amarelada. A justificação para a intervenção foi a “salvaguarda  das pessoas e bens”.

Por causa deste dilema, realizou-se recentemente em Quarteira um debate sobre “Que futuro para o Algarve, sem praias?” O tema veio a propósito da apresentação do projecto Change — um estudo coordenado pela investigadora Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, que visa analisar os problemas de natureza social e ambiental na linha de costa, tendo-se focado em três casos — Caparica (Almada), Barra-Vagueira (Aveiro) e Quarteira.

O que se deve então fazer para manter as praias: construir esporões ou fazer a recarga artificial do areal? “O problema não está no tipo de intervenção”, responde Alveirinho Dias, especialista em dinâmica costeira. O problema, sublinha, “está no ordenamento do território — construiu-se em zonas de risco”. No mesmo sentido, Luísa Schmidt chamou a atenção para os casos da Caparica e Vagueira (Aveiro) — uma questão que, disse, “exige monitorização”, tendo presente que “há um preço a pagar” para mitigar os erros urbanísticos. No caso de Quarteira, observou Sebastião Teixeira, “sabe-se que, de dez em dez anos, é preciso investir seis milhões de euros para manter a praia”.

O presidente da junta de freguesia, Telmo Pinto, perplexo, comentou: “Estamos dependentes do turismo, e sem praia não há turistas”. Da plateia, uma das convidadas para o debate defendeu a necessidade de prosseguir com a construção de mais esporões, a nascente, sugerindo que essa poderia ser a solução a replicar por toda a costa. O director regional da APA discordou: “Podia resolver-se um caso pontual, mas deslocava-se-se o problema para outro síto”, disse. No mesmo sentido, ao PÚBLICO, Alveirinho Dias, afirmou: “Há mais de meio século que se conhece o resultado da construção de esporões — os problemas do litoral não estão relacionados com a dinâmica costeira, o problema está na ocupação do território em zonas de risco”.

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