Júlio Pereira com braguinha.pt no festival Raízes do Atlântico

Rão Kyao e a madeirense Banda de Além abrem neste sábado à noite, no Funchal, edição marcada pela música da lusofonia.

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Júlio Pereira é o impulsionador de um projecto de investigação que poderá dar origem a uma candidatura a património da UNESCO António Gamito

O cavaquinho.pt chegou à Madeira. Na versão insular chama-se braguinha. Será um dos cordofones presentes no festival Raízes do Atlântico deste ano, de forma especial na actuação de Júlio Pereira, o seu maior divulgador e impulsionador de um projecto de investigação que poderá dar origem a uma candidatura a património mundial da UNESCO.

O Raízes do Atlântico, considerado o mais antigo festival de world music de Portugal, abre nesta quinta-feira à noite com Rão Kyao, instrumentista e compositor de referência da música portuguesa com um notável percurso a nível internacional. A primeira parte do programa é preenchida pelos Banda d’Além, que farão a apresentação pública do seu novo CD, intitulado Ausência, constituído por canções extraídas ou inspiradas no cancioneiro tradicional madeirense, do qual o grupo é um dos mais apreciados intérpretes.

Na sexta-feira sobem ao palco do auditório do jardim municipal, no Funchal, Dany Silva, músico, cantor e compositor cabo-verdiano, e Júlio Pereira. Será uma oportunidade de os madeirenses ouvirem, ao vivo, as novas composições de Cavaquinho.pt, editado trinta anos depois de Cavaquinho, o álbum que definiria a carreira deste compositor e instrumentista na música portuguesa.

Cavaquinho.pt, como explicou Júlio Pereira, é como um cartão-de-visita para um projecto maior em torno do instrumento de cordas e que inclui um processo de investigação e inventariação de modelos do instrumento, partituras, tocadores, compositores e construtores em todo o mundo. É projecto de uma vida, de cartografar a identidade de um pequeno instrumento de cordas, popular, de tradição minhota e que deu a volta ao mundo ao longo dos séculos, deixando descendência sob vários nomes: cavaquinho no continente português, em Cabo Verde e no Brasil, ukulele nos EUA, keroncong na Indonésia, e braguinha na Madeira. Em “extra” especial, Júlio Pereira proporcionará no concerto de sexta-feira o diálogo entre duas versões do pequeno tetracórdio: do seu cavaquinho com o braguinha madeirense.

No último dia do festival, sábado, actuarão os Couple Coffee, dupla formada pela luso-brasileira Luanda Cozetti (voz) e pelo brasileiro Norton Daiello (baixo eléctrico). Apresentam uma mistura de sons da lusofonia com um certo sabor a Brasil. O encerramento é com o projecto madeirense Quinteto MedioAtlântico que se apresenta com um serão musical feito de peças dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. A ligação é feita através do rajão e a viola de arame.

Realizado pela primeira vez em 1994, o festival Raízes do Atlântico afirmou-se como um dos principais eventos culturais da Madeira e tem sido palco do encontro entre a música tradicional madeirense e a música do mundo. Este cruzamento de culturas coincide com o que passou a ser designado como a década de ouro da “nova música tradicional madeirense”, devido ao surgimento de novos projectos musicais que reinterpretaram os sons da ilha.

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