Sim, os Monty Python estão velhos. E depois?

Diz-se que a idade passa por todos e ninguém resiste ao tempo. Nem os mitos. E é verdade, como se viu esta semana em Londres no regresso aos palcos de Eric Idle, John Cleese, Terry Gilliam, Michael Palin e Terry Jones. Envelheceram, mas qual é a surpresa? E o que é que isso interessa? Nada. Afinal, os reis da comédia voltaram para dez espectáculos no O2 Arena, dando-nos a oportunidade de voltar a rir com alguns dos melhores sketches da história do humor, de gritar "Albatrross" ou "SPAM" e de cantar que temos de olhar sempre para o lado bom da vida. Que é como quem diz: always look on the bright side of life. Alguma vez pensámos que isso seria possível? Alguma vez acreditámos que os veríamos ao vivo? Não, e por isso foi tão bom.

Não é por acaso que me foco na idade dos senhores. Essa foi uma das críticas mais apontadas aos mestres do riso depois do espectáculo de terça-feira em Londres. Foi com estranheza, aliás, que li algumas das críticas na imprensa britânica – logo os britânicos a quem os Monty Python pertencem.

Mas não sabíamos já que estavam mais velhos? Eles até se fartaram de nos avisar. É que a brincar, a brincar, a soma das idades destes cinco senhores dá qualquer coisa como 357 anos. É muita vida. Como podemos criticar o facto de Idle, Cleese, Gilliam, Palin e Jones não terem mais a agilidade de outros tempos? Ou de não terem a mesma memória? Sim, houve um ou outro momento em que se lhes varreram as falas (até pela emoção de representar tudo de novo décadas depois). Mas eles têm culpa de que ainda saibamos de cor que o papagaio estava mesmo morto e que na loja de queijos não há afinal queijo nenhum?

Como podemos exigir ainda mais a alguém que já nos deu tanto? Não devíamos antes aplaudir o facto de os Monty Python se terem reunido para uma despedida digna? É que há muito que cada um seguiu o seu caminho, sem que se tivesse celebrado a sério o seu legado. E Graham Chapman, o Python que morreu em 1989, não merecia também uma homenagem assim? Quer dizer, aquele aplauso gigante das cerca de 20 mil pessoas no O2 Arena, vindas de tantos lugares, muitas em família, há muito tempo que era merecido.

É que uma coisa é reconhecer a importância dos Monty Python e partilhar vídeos e filmes a rirmo-nos sempre como se fosse a primeira vez. Outra é tê-los em palco, ali à frente, e mostrar-lhes como eles foram importantes. E não vale usar o argumento de que já não são os mesmos porque voltaram por dinheiro. Qual é o problema? Os Rolling Stones andam em digressão só por lazer?

É verdade que não houve grandes novidades no regresso. Mas eles avisaram. Disseram tal e qual como ia ser feito. Alguns skecthes representados ao vivo, intercalados com outros momentos nos ecrãs gigantes (vimos aí por exemplo a Fish Slapping Dance ou o jogo de futebol de filósofos e, claro, muitas animações de Terry Gilliam) e pelo meio momentos musicais acompanhados por bailarinos. É como nos diz o título do espectáculo: Monty Python Live (mostly).

Se me perguntarem se gostava de ter visto mais os Monty Python naquele espectáculo, respondia: gostava, claro. Mas é por isso que o espectáculo perde a piada ou desilude? Não. São os Monty Phyton. Aqueles rapazes que na década de 1970 nos mostraram como nos podemos rir de tudo e de nada. Os mesmos cujos sketches ainda nos fazem rir.

Por que raio é que, mais de 40 anos depois, ainda lhes exigimos que voltem a subverter as regras? Não é mais deles esse papel mas sim dos humoristas que se lhes seguem. Aqueles que só existem porque um dia os Monty Python existiram.

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