Letizia: luzes e sombras de uma rainha plebeia

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“Não é obsessão, ela gosta de fazer as coisas bem”, diz um amigo do casal real Vincent West/Reuters

Não é por coscuvilhice, mas consequência da monarquia. A entrada de Letizia Ortiz em cena provocou surpresa, dividiu opiniões, favoreceu rumores e uma catadupa de factos impensáveis.

Em dez anos, a antiga pivot dos telejornais da televisão pública, que conheceu Felipe de Borbón nas jornadas de urgência da limpeza das praias galegas do petróleo derramado pelo Prestige, esteve no centro de um furacão mediático a que alguns sectores quiseram atribuir contornos políticos. São as luzes e sombras de uma rainha plebeia, num país sem monárquicos, mas que tem monarquia.

“Letizia Ortiz não sabe relacionar-se com as pessoas, a sua obsessão pela perfeição afasta-a, não sabe transmitir”, retrata Mabel Galaz, jornalista do El País que acompanha o noticiário social da Casa Real. Experiente repórter, Mabel desenha o perfil de uma mulher insegura. Talvez fruto da pressão a que está sujeita, dado não ter linhagem de família real ou ascendente aristocrático – o que para alguns sectores mais tradicionalistas a tornou um alvo.

“Não é obsessão, ela gosta de fazer as coisas bem”, contrapõe um amigo do casal, que solicita o anonimato. Uma reserva pedida pelo reconhecimento de uma relação social cálida, mas que obriga à contenção pública. “Ela é uma novidade, apareceu há dez anos, é uma personagem por descobrir, as críticas vieram sempre de sectores muito retrógrados”, prossegue. “Atacaram-na porque era divorciada, porque tinha feito um aborto…”

Não é esse o ânimo e o âmbito das observações da jornalista do El País. “Enquanto o príncipe melhorou, ela é impenetrável pela obsessão pela perfeição”, retoma Mabel Galaz. Os toques estéticos no seu nariz são apenas um exemplo. E não o mais notório ou decisivo. A obsessão é mais evidente na contenção de gestos, na falta de espontaneidade. “A verdadeira Letizia foi a que mandou calar o príncipe no dia do pedido de casamento”, recorda Mabel. Foi um episódio que permitiu uma espreitadela à intimidade do casal. Um caso que foi explorado pelos detractores do enlace.

“Eles estão indefesos perante as infâmias e calúnias”, desabafa o amigo do casal. “Há sempre muitos rumores – a ida de ela, com amigas, a um concerto de rock foi apresentado como uma saída clandestina”, critica. Esta pressão tem consequências. Nas sondagens que o Palácio da Zarzuela considera, os membros da família real mais bem avaliados são a rainha Sofia – "a profissional", como a apelida o marido –, Felipe, Juan Carlos e… Letizia.

Parece uma contradição, mas não o é. Sempre criticada, Letizia é desejada. “As capas das revistas cor-de-rosa que mais vendem são as da Letizia e de Sara Carbonero, a mulher de Iker Casillas, o guarda-redes do Real Madrid”, revela Mabel Galaz. Um interesse desmesurado. Ao ponto de a revista Diez Minutos ter feito o que ninguém previa. Publicou uma entrevista imaginária, assim foi apresentada, com a princesa: “Recriámos com dados verificados e depoimentos fiáveis a conversa que poderia ter tido com a nossa revista.” A comissão deontológica da associação de jornalistas examina o assunto.

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