Entregues a essa coisa do rock'n'roll

Foto

Hoje no Porto, os Black Rebel Motorcycle Club

A pergunta fundadora já não tem o impacto de há uma década, mas mantém-se, inabalável, como "o" manifesto dos Black Rebel Motorcycle Club. "Whatever happened to my rock'n'roll?", gritavam zangados e acusadores, rodeados que estavam nesse distante 2000 por coisas inenarráveis - Papa Roachs e Drowning Pools e Disturbeds e Limp Bizkits - há muito atiradas para o rodapé dos rodapés da história.

Depois, todos sabem o que aconteceu. Apareceram os Strokes e explodiram os White Stripes, os Mooney Suzuki adaptaram a "rave up" dos Yardbirds a uma nova era e os Black Rebel Motorcycle Club, em volume altíssimo, com a guitarra a desdobrar-se numa massa sonora feita de ácido blues e reverberação constante, com o baixo a provocar danos consideráveis ao esqueleto (só lhe faz bem ser chocalhado daquela maneira), atacaram-nos com estrondo, aglomerando a escola Brian Jonestown Massacre, o balanço Jesus & Mary Chain e a iconografia marginal do rock'n'roll (o bom cabedal dos Velvet a destacar-se) num power-trio voraz, todo ele urgência e abandono a essa coisa do rock'n'roll que eles não sabiam onde raio se tinha metido.

Considerando que o homónimo álbum de estreia, editado em 2001, não mais seria superado pela banda de São Francisco, lógico seria falar em seguida de uma decadência prolongada, de como é impossível voltar ao lugar onde se foi feliz, etc, etc. Mas os Black Rebel Motorcycle Club, que mantêm a rota praticamente inalterada, exceptuando a viragem acústica de "Howl" - folk rock e blues tratados com o tom bombástico de um John Bonham -, nunca entraram realmente em decadência. Foi-se o "momentum" e, contra isso, nada podem. Contudo, ao vê-los em concerto no DVD que acompanha "Live", editado no ano passado, sente-se que ainda pende sobre eles uma salvadora condenação: o tal grito fundador continua a ser aquilo que os mantém de pé, escondidos sob luz negra, procurando hipnose colectiva sobre uma torrente de flashes.

Há um álbum editado este ano, "Beat The Devil's Tattoo", e também uma nova baterista, Leah Shapiro, no lugar do fundador Nick Jago (o homem da drogaria, que saiu por não controlar a drogaria), mas isso dos álbuns é, neste contexto, pormenor secundário. Interessa a experiência do concerto, a capacidade de a banda nos transportar para um qualquer "wild side" que ainda faça sentido em 2010, dez anos passados desde que os ouvimos pela primeira vez.

Depois de, em 2002, terem actuado no festival Sudoeste, os Black Rebel Motorcycle Club regressam a Portugal. Segunda-feira, sentados na Aula Magna, vamos vê-los em Lisboa. Em pé, no regressado, renovado e "relocalizado" Hard Club, lá os receberemos terça no Porto.

Sugerir correcção
Comentar