Tudo em família

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A primeira pergunta que se faz a Ralph Fiennes, assim que ele se senta à mesa do hotel Adlon de Berlim onde jornalistas de todo o mundo conversam com o elenco de Grand Budapest Hotel: como é que é ser o “recém-chegado” à “família” de actores de Wes Anderson? “Ao fazer estas entrevistas tenho percebido que as pessoas acham que quando entro numa sala cheia de veteranos do Wes Anderson tenho de passar um qualquer teste para ser admitido!”, ri-se o actor britânico. “Mas não foi nada disso.”

Fiennes, que continua indelevelmente marcado pelo papel que o revelou ao grande público – o do cruel oficial nazi da Lista de Schindler de Steven Spielberg -, carrega Grand Budapest Hotel aos ombros, rodeado por uma invejável colecção de “repetentes” de filmes anteriores do cineasta: Bob Balaban, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Bill Murray, Edward Norton, Jason Schwartzman, Tilda Swinton e Owen Wilson. (Mais os recém-chegados F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Jude Law, Saoirse Ronan, Léa Seydoux e Tom Wilkinson.) Monsieur Gustave, o concierge, foi escrito para o actor inglês, embora seja inspirado numa personagem real, amigo do realizador, cuja identidade é ciosamente guardada em segredo.

É um papel raro para um actor quais serão os gestos, pequenas idiossincrasias que já foram pensadas e que são uma parte importante da história. Mas, apesar de criar um esqueleto muito específico, ele continua a permitir-nos respirar vida lá para dentro.” Bill Murray, na sua sétima colaboração com Anderson, tinha dito, na conferência de imprensa oficial de apresentação do filme, meio a brincar, que com o realizador a única garantia era “longas horas de trabalho por pouco dinheiro”. Mas não há praticamente ninguém que tenha filmado uma vez com Anderson que não volte a rodar com ele. Willem Dafoe (terceira presença na obra) explica simplesmente que “ele nos dá coisas interessantes para fazer”. “Os actores são pessoas simples, querem fazer coisas boas e nem sempre é fácil encontrá-las. Gostamos de usar o nosso talento para ajudarmos alguém de quem gostamos. E, francamente, preocupo-me cada vez menos com o tamanho do papel que me é proposto e cada vez mais com a companhia.”

“Companhia”, aqui, ganha uma dimensão adicional: Grand Budapest Hotel foi praticamente todo rodado na pequena cidade alemã de Görlitz, onde todo o elenco ficou instalado num pequeno hotel familiar. Criou-se uma espécie de comunidade, onde os actores chegavam e partiam consoante a agenda da rodagem e do seu próprio calendário - o que apenas sublinha como, quando se “entra” na família Anderson, praticamente já não se sai. Fiennes: “Nunca se sabe porque é que um determinado grupo de pessoas se dá bem, mas como o Bill dizia ontem, a razão pela qual trabalhamos com o Wes é gostarmos dele. É a simples afeição humana pelo Wes e pelo que ele está a criar; existe uma certa integridade. Os actores respeitam esse convite para fazer parte de algo que se está a criar sem interferências.

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