Comerciantes pedem regresso da paragem da STCP ao Carregal

Passagem da paragem de autocarros para a Rua de D. Manuel II afastou clientes das lojas instaladas junto ao jardim. Mas a Câmara do Porto não deve voltar atrás na decisão.

A paragem da rua Clemente Menéres foi desactivada no dia 2 de Junho
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A paragem da rua Clemente Menéres foi desactivada no dia 2 de Junho Miguel Nogueira
A maior parte das carreiras que paravam no carregal passaram a fazê-lo na Rua D. Manuel II, em frente ao CICA
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A maior parte das carreiras que paravam no carregal passaram a fazê-lo na Rua D. Manuel II, em frente ao CICA Miguel Nogueira

Satisfeito com o fluir do trânsito, a meio da tarde, o taxista Manuel Silveira elogia a opção pela desactivação da paragem da STCP na Rua de Clemente Menéres, no Jardim do Carregal, no Porto, em frente à postura de táxis. Desde o início do mês que os autocarros deixaram de parar nesta artéria estreita, mas a medida tomada pela Câmara do Porto deixou desesperada a dona de um quiosque que, de repente, e sem pré-aviso, perdeu uma importante fonte de clientes. Três outros comerciantes da zona acompanharam Evelina Fernandes na queixa entregue ao município. Que só voltará atrás, contudo, se do ponto de vista da circulação viária a decisão se revelasse negativa.

Há um movimento que se perdeu, no Jardim do Carregal, atrás do Hospital de Santo António. Era o movimento de centenas de pessoas, vindas de consultas ou visitas e a caminho de um dos muitos autocarros que ali paravam. Foi esse vai-vém que levou Evelina Fernandes, há quatro anos, a abrir um quiosque logo atrás da paragem, numa opção acertada que lhe garantiu o sustento até ao final do mês passado. Agora, a experiência de dez dias sem aquele bulício levam-na a temer que não vai conseguir manter o negócio. Anda nervosa, “desesperada”, assume, e os vizinhos, ainda que com outra calma, queixam-se do mesmo.

O fim da paragem significa o fim do contacto com muitos clientes. Que o eram apenas pela conveniência da proximidade, naqueles minutos em que se espera um autocarro. Agora foram-se para a Rua de D. Manuel II, a 500 metros, ou, no caso de uma linha, para a Rua do Rosário. Só quatro enviaram queixa à câmara, mas para além do quiosque, ficaram a perder clientes uma loja de chaves e conserto de sapatos, um talho, um café, um instalador de persianas e uma frutaria, onde Carolina Fonseca, 25 anos, teme pelo emprego que conseguiu há quatro anos. Mas a Câmara do Porto, explicou o seu assessor, Nuno Santos, “não toma decisões destas em função de alguns comerciantes, mas sim das centenas de utentes dos transportes públicos e da fluidez do trânsito em geral”.

Com atelier na rua, o arquitecto Miguel Meirinhos contesta o sentido da opção camarária. Como outras vozes na zona, exige ver o estudo de tráfego que sustentou a medida, pois, à primeira vista, considera que a Câmara do Porto piorou as condições de circulação nas saídas do túnel de Ceuta e, principalmente, na que desemboca na Rua de D. Manuel II, em frente ao Museu Soares dos Reis. É ali que agora param quase todos os 29 autocarros, que, por hora, passavam no Carregal. É ali que se situa o vai-vém de carros, ambulâncias e pessoas para o CICA – Centro Integrado de Cirurgia de Ambulatório do Centro Hospitalar do Porto.

Num dos dias desta semana, a meio da tarde, a confusão era evidente, mas o município garante que as informações do sistema de vigilância de tráfego dão conta de uma situação normal, na maior parte do tempo. Em todo o caso, explica Nuno Santos, a autarquia ainda está à espera de vários relatórios da STCP sobre os tempos de circulação das carreiras sujeitas a alteração, e sobre a satisfação dos clientes, para tornar definitiva uma medida que, para já, é assumida como “experimental”.

Com o negócio “desactivado” por esta decisão, Evelina Fernandes acusa o presidente da Câmara de ter abandonado os comerciantes. Depois de ter enviado, a 30 de Maio ao fim da tarde, um mail dirigido a Rui Moreira, a resposta dos serviços camarários chegou-lhe no dia 11 deste mês, reencaminhando a queixa para o Gabinete do Munícipe.

“É espantoso como se decide isto sem ouvir as pessoas. É claro que vamos sofrer com isto. Os clientes mudam os seus hábitos e deixam de vir aqui”, explica Paulo Martins, que gere a loja de chaves/sapateiro aberta pelo pai vai para 50 anos, empregando mais duas pessoas. Que já dizem ter notado, pela manhã, que o movimento mudou. Para pior.

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