Putin e Xi Jinping falham negócio milionário de gás natural

Visita oficial do Presidente russo a Xangai inclui manobras militares conjuntas.

Foto
Xi Jinping chamou "velho amigo" a Vladimir Putin Carlos Barria /REUTERS

Numa altura em que tanto a Rússia como a China são protagonistas de conflitos territoriais, o Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o seu homólogo russo em Xangai, onde os dois países realizaram exercícios militares conjuntos. A cereja no topo da visita para selar esta aliança de duas potências com assento permanente – e direito de veto – no Conselho de Segurança das Nações Unidas –, seria assinar um contrato milionário para o fornecimento de gás natural à China, um balão de oxigénio para a economia russa. Mas falhou acordo sobre o preço.

Esta é a primeira visita de Estado de Putin à China deste que Xi Jinping assumiu a presidência – a primeira visita de Xi ao estrangeiro, quando assumiu a liderança, no início de 2013, tinha sido Moscovo. A aliança das duas potências continua firme e, agora que as relações da Rússia com o Ocidente azedaram de uma forma nunca vista desde o fim da Guerra Fria, interessa a Moscovo mostrar que não está isolada.

Um ponto alto da visita de Putin seria a assinatura de um acordo para que a Gazprom, a empresa maioritariamente detida pelo Estado, exporte para a China 38 mil milhões de metros cúbicos de gás natural anualmente a partir de 2018. É muito, mas é menos de um quarto da quantidade de gás que a Rússia vende à Europa. 

A China, como maior consumidor de energia, seria um parceiro natural da Rússia mas, por agora, apenas 9% do total das importações chinesas de petróleo e 1% das de gás são provenientes da Rússia, diz a revista Foreign PolicyOs chineses, negociadores duros, querem um bom preço. "A China quer mesmo fazer descer o preço. E tem outras opções, como um projecto próprio em Sichuan e a possibilidade de vir a importar gás liquefeito aos Estados Unidos", comentou à Reuters Gordon Kwan, analista da Nomura Research.

É tentador ver no momento escolhido para formalizar este acordo que está a ser negociado há uma década uma resposta à crise ucraniana. O primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev admitiu mesmo, numa entrevista à Bloomberg, “a possibilidade teórica de enviar para a China o gás que não for enviado para a Europa”. Mas a Foreign Policy sublinha, em vez disso, que a Rússia precisa de ampliar o mercado para o gás natural, num momento em que o Fundo Monetário Internacional declarou já a sua economia em recessão.

A visita de Putin inclui ainda manobras militares ao largo de Xangai entre os dois países, nas quais participam 14 navios, e pretendem mostrar a sintonia de interesses das duas nações. “Ilustram a determinação insuperável da China e da Rússia de fazer frente, juntas, às novas ameaças e novos desafios para salvaguardar a segurança e estabilidade regionais”, comentou o Presidente Xi.

No caso da China, são vários os conflitos territoriais no Pacífico – com o Japão, por causa das ilhas Senkaku, a que os chineses chamam Diaoyu, ou com o Vietname, por exemplo, depois de ter instalado uma plataforma petrolífera perto de umas ilhas cujo domínio disputa com Hanói. A iniciativa desencadeou graves motins no Vietname, e levou a China a fazer uma evacuação em massa dos seus cidadãos que viviam naquele país. Para a Rússia, o problema é a Ucrânia – e a anexação da Crimeia.

Sugerir correcção
Comentar