Vietname reprime protestos anti-chineses

Pequim começou a retirar os seus cidadãos, após ataques violentos contra fábricas e empresas controladas por chineses.

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Polícia evacua uma rua perto da embaixada chinesa em Hanói Hoang Dinh Nam/AFP

O regime do Vietname declarou este domingo guerra aos protestos anti-chineses, já Pequim tinham começado a retirar milhares de cidadãos do vizinho comunista. Há uma semana, Hanói decidiu permitir manifestações contra a China, depois de o Governo chinês ter iniciado a construção de uma plataforma petrolífera e enviado vários navios para águas disputadas: os protestos espalharam-se pelo país e resvalaram para motins e confrontos, com várias fábricas chinesas destruídas e dois mortos.

Pequim já fez sair do Vietname mais de 3000 cidadãos, incluindo parte dos feridos, transportados num avião equipado para os tratar, e enviou cinco navios para fazer o mesmo com centenas de outros. Pelo menos dois chineses foram mortos e 135 ficaram feridos, ao mesmo tempo que dezenas de fábricas foram destruídas. A China acusa o Governo vietnamita de “conivência” com os atacantes e anunciou a suspensão de programas de trocas bilaterais, tendo em conta a actual “atmosfera sombria”.

Vários analistas consideram que Hanói planeou instrumentalizar os manifestantes, acabando por perder o controlo da situação, com os protestos a chegarem a 22 das 63 províncias do Vietname – um país fortemente dependente do investimento estrangeiros.

Para além do nacionalismo, os vietnamitas, pouco habituados a poderem sair à rua, estariam a protestar tanto contra a China como contra os salários baixos (muitos vezes pagos por empresas estrangeiras, que preferem, aliás, contratar trabalhadores dos seus países) e o seu próprio Governo. “Sob a superfície, esta raiva tem tanto a ver com a corrupção e a incompetência de Hanói como com quaisquer ressentimentos em relação à China”, dizia há dias ao New York Times Robert Templer, autor de vários livros sobre o Vietname. “Tudo se resume a muita raiva e a muito poucas formas de a canalizar.”

Agora, as autoridades receberam ordens para “fazerem o necessário para impedir com toda a firmeza manifestações ilegais susceptíveis de perturbar a ordem e a segurança públicas”, avisou no sábado à noite o primeiro-ministro, Nguyen Tang Dung.

Já na manhã de domingo, dois pequenos protestos foram imediatamente travados pelas forças de segurança. As autoridades enviaram milhares de polícias para várias cidades, ao mesmo tempo que detinham ou impediam de sair de casa muitos activistas e críticos conhecidos do regime. Várias detenções foram feitas em Hanói e na grande Ho Chi Minh, a maior cidade do país, rodeada de vários parques industriais. Em Hanói, as ruas e um parque junto à embaixada chinesa foram encerrados e os jornalistas foram afastados da zona.

Pequim reivindica de forma cada vez mais activa territórios do mar do Sul da China que abrangem zonas em disputa – que países como o Vietname, as Filipinas, o Japão, Brunei e Taiwan consideram suas. Há estudos que indicam a existência de grandes reservas de petróleo e gás natural na área. Desta vez, os avanços aconteceram nas ilhas Paracel, situadas entre o Norte do Vietname e as Filipinas, e reivindicadas por Pequim e por Hanói, mas controladas pelos chineses desde 1974 depois de uma batalha naval que provocou a morte a 50 vietnamitas.

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