“As eleições europeias não vão resolver o vazio de poder" em Sófia

Esta é apenas a terceira vez que os búlgaros vão votar numas eleições europeias, mas a sensação de que há pouco a influenciar em Bruxelas e a desilusão com a política são grandes.

Segundo as sondagens, o impasse político actual na arena doméstica, com os dois grandes partidos, um mais à esquerda outro mais à direita, praticamente empatados, deverá repetir-se.

“As eleições europeias não vão resolver o vazio de poder na Bulgária. Pelo contrário, vão quase certamente levantar novas questões”, disse o analista político Parvan Simeonov à Rádio Pública Búlgara.

Apesar da maioria das sondagens mostrar que os búlgaros gostavam de ver o actual Governo, saído de eleições antecipadas em Maio, demitir-se, a oposição também não ganha com isso: as projecções dão à coligação que inclui o partido socialista (no poder) 30% e ao principal partido da oposição (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária – GERB) 29%.

Um novo partido, Bulgária Sem Censura, surge com 10%, aliado a um partido nacionalista (que é liderado por um antigo apresentador de televisão visto como próximo de oligarcas). Relevante é ainda a grande descida do partido de extrema-direita Ataka, com 4,6% e um eurodeputado (no Parlamento cessante tinha três). Esta quarta-feira, o seu líder foi acusado de hooliganismo por uma altercação violenta com um polícia num aeroporto.

Ainda esta semana foi discutida no Parlamento uma nova moção de censura – a quarta nos últimos 12 meses – contra o Governo liderado pelo tecnocrata Plamen Orecharski. Este Governo é uma coligação entre o Partido Socialista e o Movimento para os Direitos e Liberdades, um partido liberal da minoria turca, que têm apenas 120 entre 240 deputados, portanto para aprovar legislação o Executivo tem contado com o apoio tácito dos ultranacionalistas do Ataka (23 deputados).

Desta vez, o protesto da oposição foi motivado pelo “falhanço do Governo na gestão da energia”, disse o líder da oposição Boiko Borissov, que foi primeiro-ministro de 2009 a 2013 (demitiu-se depois de manifestações contra as medidas de austeridade e corrupção). Em cima da mesa está a passagem por território búlgaro do futuro gasoduto South Stream, liderado pela russa Gazprom, que a oposição queria ver suspensa e o Governo assegura que avançará no próximo Verão.

Os planos de oleoduto tocam as relações Bulgária-Rússia e Bulgária-União Europeia. Vários meios de comunicação búlgaros relataram que o ministério da Economia recebeu uma carta do gigante de energia russo Gazprom com possíveis formulações de uma lei relacionada pelo projecto. A União Europeia diz que o projecto viola regras do mercado energético (que proíbem que os produtores detenham os canais de distribuição), e o Parlamento Europeu opinou mesmo que o oleoduto “não deve ser construído”. Mas o Governo búlgaro argumenta que não se trata de um canal próprio e sim de uma extensão de uma rede e tem assim ignorado a oposição de Bruxelas.

A marcar esta votação está ainda a ameaça de fraude, num dos países com piores índices de corrupção. O Ministério do Interior lançou um alinha telefónica que funcionará 24 horas para que os cidadãos possam reportar irregularidades ou possíveis crimes relacionados com as eleições europeias.

Sugerir correcção
Comentar