Novo relatório reforça responsabilidade da tripulação na queda do voo Rio de Janeiro-Paris

Houve uma “má compreensão da situação” e “a divisão de tarefas na cabine não foi aplicada de maneira rigorosa”, dizem peritos

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Parte da cauda do Airbus 330, quando foi descoberto no Atlântico Marinha Brasileira/AFP

A queda do voo Air France 447 que ligava o Rio de Janeiro a Paris, a 1 de Junho de 2009, aconteceu devido a “uma reacção inapropriada da tripulação após a perda momentânea das indicações de velocidade”, de acordo com uma contra-análise de especialistas pedida durante a investigação judicial do acidente.

As simulações e análises “mostram claramente a predominância de factores humanos na origem do acidente e nos factores que contribuíram” para a queda, concluem os cinco especialistas que redigiram o relatório. “Também constatámos que o acidente poderia ter sido evitado com algumas acções apropriadas da tripulação”, acrescentam.

A queda do Airbus A330 da Air France no Oceano Atlântico custou a vida a 228 passageiros e membros da tripulação.
Esta nova análise, com data de 30 de Abril, foi solicitada há um ano pelas juízas Sylvia Zimmermann e Sabine Kheris, após uma primeira apresentada em Julho de 2012 às famílias das vítimas. As conclusões serão apresentadas formalmente a 2 de Julho às partes civis do processo pelos especialistas e juízes.

As conclusões do primeiro relatório apontavam para uma conjunção de factores na origem da queda do voo AF 447: falhas humanas, problemas técnicos, procedimentos errados e condições meteorológicas adversas. Com base nessas conclusões, a Air France e a Airbus, a fabricante do avião, foram processadas em 2011 por homicídios agravados.
Mas a contra-análise apresenta uma visão diferente.

“O nosso grupo de especialistas determinou que o acidente se deveu à perda de controlo do avião causada pela reacção inapropriada da tripulação após a ausência momentânea das indicações de velocidade”, indicam os autores da nova análise, que apresentam uma lista de 14 factores que contribuíram para a tragédia, por ordem de importância.

Citam a responsabilidade da tripulação, mencionando “a ausência de uma análise estruturada da avaria”, “a má compreensão da situação” e “a divisão de tarefas na cabine que não foi aplicada de maneira rigorosa”.
Mas fazem referência também à companhia aérea, lamentando a “ausência de instruções claras por parte da Air France, apesar de vários casos parecidos de congelamento das sondas Pitot”, apontadas no primeiro relatório como estando na origem do acidente.

Durante a passagem por uma zona de convergência intertropical, com densos cristais de gelo, as sondas Pitot (que determinam a velocidade da aeronave) foram temporariamente obstruídas.

Os peritos apontam “para a formação inadequada dos pilotos na aplicação dos procedimentos” necessários para lidar com o congelamento das sondas e com o comportamento do avião durante a perda das indicações de velocidade.

O relatório está “cheio de contradições e de imprecisões”, disse à AFP Yassine Bouzrou, uma advogada dos familiares das vítimas. “Os especialistas contentam-se em culpar os pilotos, evitando sempre a questão central das falhas técnicas”, comentou.

Danièle Lamy, presidente da Associação das Vítimas e Solidariedade AF447, considerou que a segunda análise confirma "que as causas para o acidente são múltiplas e vão bem além da mera conduta dos pilotos”.

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