Comerciantes do Algarve vão investir mais de três milhões para dar informação aos turistas

A empresa proprietária do jornal O Algarve, agora suspenso, tem duas candidaturas aprovadas para investir 3,3 milhões em outdoors digitais, com fundos comunitários.

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Ana Banha

A Associação de Comerciantes do Algarve (Acral) suspendeu, há cerca de um ano, a publicação do jornal centenário O Algarve, alegando que não tinha “vocação” para gerir o periódico. Agora vai lançar um projecto multimédia, no valor de 3,3 milhões de euros, apoiado por fundos europeus. O presidente da Acral, Victor Guerreiro, é quem dirige também a Globalgarve – a empresa, em situação de falência, que presta serviços informáticos às câmaras.

O projecto tem por objectivo vender às câmaras e particulares espaços de comunicação digital, permitindo a interactividade dos utilizadores com um conjunto de informações de carácter turístico e geral. “Fizemos uma parceria com a Media 360, empresa que já trabalha nesta área na região norte”, disse ao PÚBLICO Victor Guerreiro, adiantando que o negócio envolve também a Algarve 360 – Global Media Solutions. A proposta de aquisição de serviços foi apresentada aos municípios, mas alguns colocaram reservas por já ter havido uma experiência, falhada, apresentada em moldes semelhantes. Poderá ainda ser montado um canal de televisão regional.  

A ideia tem como suporte um conjunto de outdoors espalhados pela região, constituindo uma plataforma digital para distribuir informação turística e comunicação institucional das câmaras. A principal fonte de financiamento virá de duas candidaturas, aprovadas pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, em nome da Canal Algarve (empresa detida a 100% pela Acral), proprietária do jornal.

Já o retomar da publicação de um dos mais antigos jornais do país, com 105 anos, não é prioridade para os representantes do comércio tradicional. Uma das primeiras medidas tomadas por Victor Guerreiro, quando assumiu a presidência da Acral, foi mandar fechar O Algarve. “Penso que a associação não tem vocação para gerir o jornal, nem pouco mais ou menos”, justificou.

Embora não esteja previsto “para já” a reedição do jornal, Victor Guerreiro adianta como condição prévia para voltar a ser publicado uma mudança da linha editorial: "O jornal só publicará notícias positivas sobre a região.” Para substituir os jornalistas que foram para o desemprego, o empresário diz ter a intenção de recrutar os alunos saídos do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Algarve.  

BES é o maior credor
A empresa de desenvolvimento regional Globalgarve foi fundada há cerca de duas décadas, muito apoiada em subsídios comunitários. Devido a dificuldades financeiras, os projectos ficaram pelo caminho, à semelhança do que aconteceu com mais de meia centena de agências de desenvolvimento local e regional que existiam em Portugal.

Após ter investido oito milhões euros nas novas tecnologias, a empresa encontra-se actualmente em situação de falência. O plano de recuperação foi aprovado anteontem pela maioria (pouco mais de 50%) dos credores, mas o tribunal fez depender a sua aceitação do “voto por escrito” do BES, o principal credor, a reclamar o pagamento de cerca de 300 mil euros.

A empresa, que tem como accionista principal a Região de Turismo do Algarve, instalou mais de 200 quilómetros de rede de fibra óptica, paralela a uma outra que já existia pertencente às Águas do Algarve (do grupo Águas de Portugal). Ambas com aproveitamento reduzido em relação às capacidades que apresentam.   

O actual administrador, Victor Guerreiro, atira responsabilidades para os “erros” cometidos pelos seus antecessores. Até 2013, as câmaras desempenhavam o papel de accionistas e, ao mesmo tempo, funcionavam como os principais clientes dos serviços prestados na área da informática. Os sites dos municípios são administrados por esta empresa. O programa Algarve Digital, executado pela Globalgarve, permitiu instalar hotspot (pontos de ligação à Internet), com acesso público, gratuito, nas principais praças municipais. Mas, actualmente, por falta de manutenção, o sistema está inoperacional. Em Faro, nenhum dos três ou quatro espaços wi fi funciona, como de resto sucede noutras localidades. Há um ano, por imposição legal (Lei n.º 50/2012), as autarquias alienaram o capital social que detinham na empresa.

A empresa de desenvolvimento regional tem os seus quadros reduzidos a uma funcionária. Victor Guerreiro, administrador há cerca de oito meses, entende que a Globalgarve – que passou a subcontratar serviços às empresas concorrentes para assegurar o contrato com as câmaras – “tem viabilidade desde que os municípios cumpram os compromissos”, o que significa pagar facturas em atraso, no valor aproximado de 300 mil euros. “Sou administrador, voluntário, porque não havia mais ninguém disponível”, disse o presidente da Acral, com percurso profissional feita na área do comércio local, no ramo do vestuário. 

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