Mourinho versus Simeone no duelo contra o aborrecimento

O Chelsea recebe o Atlético de Madrid num jogo que vale um lugar na final da Champions e opõe duas visões distintas do futebol.

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José Mourinho espera por Diego Simeone Eddie Keogh/Reuters

Há uma semana que chovem críticas sobre a cabeça de José Mourinho. A postura assumida pelo Chelsea nas duas últimas partidas – visitas ao Atlético de Madrid e Liverpool – foi considerada demasiado defensiva: subitamente, o técnico português era descrito como um aborrecido condutor de autocarros, mais interessado em barrar os caminhos para a própria baliza do que em atacar a baliza adversária. Mas não há argumentos contra a eficácia. O empate 0-0 em Madrid permitiu ao Chelsea levar a decisão da meia-final da Liga dos Campeões para casa. E em Liverpool os londrinos obtiveram uma vitória (0-2) que voltou a baralhar as contas do título na Premier League.

Esta noite, frente ao Atlético de Madrid (19h45, SP-TV1), só a vitória interessa à equipa de Mourinho. O empate sem golos dará prolongamento (e penáltis, se for o caso), enquanto uma igualdade com golos coloca os colchoneros na final. A abordagem do Chelsea será necessariamente diferente, admitiu José Mourinho. “Quando o Atlético tiver a bola teremos de defender. Quando tivermos a bola teremos de atacar e tentar marcar. Isto é o futebol que eu conheço”, resumiu. Mas o técnico português não deixou de defender a opção táctica assumida na primeira mão: “Há 10, 20 ou 30 anos, quando uma equipa jogava estrategicamente em função das qualidades do adversário, isso era ser uma equipa inteligente. Hoje, dependendo do treinador e do clube, os críticos falam. Mas não há problema. O futebol está cheio de filósofos, de pessoas que percebem muitíssimo mais do que eu”.

Antes tinha falado o treinador do Atlético de Madrid, Diego Simeone. E, como se adivinhasse o que Mourinho diria a seguir, o técnico argentino sublinhou que ninguém é dono da verdade no futebol. “Há maneiras diferentes [de ganhar] e cada um escolhe aquela em que acredita em cada momento. Defender não é fácil e quando alguém o faz muito bem há que dar-lhe os parabéns”, começou Simeone, acrescentando: “Se jogássemos todos de forma igual seria aborrecido e enfadonho. Pode-se ganhar jogando com dez atrás, com dez à frente, com dez ao meio... Essa é a beleza deste jogo”.

O Chelsea fará o primeiro jogo em casa após a derrota sofrida frente ao Sunderland, então último classificado da Premier League, que colocou um ponto final à imbatibilidade dos blues após 77 jogos em casa. Frente ao Atlético de Madrid, a única equipa ainda sem derrotas na Liga dos Campeões 2013-14 (oito vitórias e três empates nas partidas disputadas), José Mourinho não pode contar com os castigados Frank Lampard e John Obi Mikel nem com o lesionado Petr Cech. Mas nem as ausências tiram confiança ao técnico português, que acredita na motivação da equipa.

“Quero ficar para sempre”
“Há jogos que são especiais e que todos os jogadores querem disputar, como a final da Liga dos Campeões. A seguir à final o jogo mais apetecível é a segunda mão da meia-final. Há que jogá-lo para chegar à final. Vamos ver se vamos a Lisboa. Eu vou, garantidamente, no Verão. Mas vamos ver se lá estamos todos juntos”, gracejou Mourinho, presente nas meias-finais da Champions pela quinta temporada consecutiva. “Talvez me ajude a dormir melhor esta noite, mas não acho que [a experiência acumulada] seja crucial nesta altura”, prosseguiu José Mourinho, que jurou fidelidade ao Chelsea: “O meu futuro é o Chelsea e a relação só terminará quando o Chelsea decidir. Eu quero ficar para sempre”.

Simeone, por seu lado, prefere não pensar sobre o que há-de vir e está concentrado no momento presente do Atlético de Madrid. Um momento absolutamente histórico, em que os colchoneros estão a dois triunfos de garantir o título de campeão da Liga espanhola – o que não sucede desde 1996. “Não nos detemos a pensar no que está a acontecer-nos, em vez disso continuamos a fazer o nosso caminho. Não penso tanto na diferença que possa existir entre uma equipa que há dois anos venceu a Liga dos Campeões e outra que há 40 anos podia tê-lo feito. Acredito mais no entusiasmo do que no facto de se ter estado antes nesta posição”, vincou o treinador argentino dos colchoneros.

Do confronto entre a quimera do Atlético de Madrid e o pragmatismo do Chelsea sairá o outro finalista da Liga dos Campeões. O Real Madrid já garantiu um lugar no duelo de Lisboa e está à espera, com a ambição de conquistar a mítica “Décima”.

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