Luca Giordano de volta ao MNAA em todo o seu esplendor

É a primeira vez que a obra é mostrada ao público, desde que em 2012 foi tirada das paredes do MNAA.

Preparação da exposição com a obra restaurada
Fotogaleria
Preparação da exposição com a obra restaurada João Cordeiro
Fotogaleria
Êxtase de São Francisco DR

Para os que conhecem bem a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, a obra que estará em destaque na Sala do Tecto Pintado a partir desta quinta-feira, e até ao dia 22 de Junho, não é uma novidade. Está cá praticamente desde sempre mas agora está exposto em todo o seu esplendor. Falamos de Êxtase de São Francisco, um óleo sobre tela de Luca Giordano (1634-1705), que foi submetido no último ano a um grande trabalho de restauro e volta agora a estar em exposição. É a primeira vez que a obra é mostrada ao público, desde que em 2012 foi tirada das paredes do MNAA.

Na pequena Sala do Tecto Pintado ultimam-se os últimos pormenores para a exposição, que abre ao público quinta-feira a partir das 18h. Ainda se sente o cheiro a tinta e pelo chão estão os vestígios de cartão e plástico, usados no transporte das obras. É que além de Êxtase de São Francisco, a mostra inclui ainda uma pintura de Luca Giordano pertencente a uma colecção particular espanhola e ainda uma pintura e dois desenhos da colecção do MNAA que estão atribuídos ao pintor napolitano. “Estas são peças que ajudam a compreender a obra fundamental”, diz Joaquim Caetano, conservador do museu. E a peça fundamental é, claro, o monumental óleo sobre tela de 182 x 256,5 cm, que segundo Caetano é “um dos melhores da fase riberesca” de Giordano.

Pintada cerca de 1665, esta obra do MNAA, segue de perto o estilo do pintor espanhol Juan Antonio de Ribera, que teve grande influência na pintura napolitana e daí a expressão “riberesca”. “Luca Giordano torna-se no pintor que melhor consegue seguir essa tendência e ganha fama com isso”, conta o conservador do museu, explicando que esta influência se nota nos contrastes entre o claro e o escuro, nas zonas de luz que incorporam empastamentos e nos modelos que exprimem uma rudeza que aumenta o dramatismo das composições. Características que, depois deste laborioso e demorado trabalho de restauro, saltam à vista.

Para isso também é importante a forma como Êxtase de São Francisco se relaciona com as obras ali em diálogo, em especial com Enterro de Cristo, um óleo sobre tela mais pequeno e que foi emprestado ao Museu de Arte Antiga para esta exposição. “O que é importante na relação entre estas duas pinturas é que embora Enterro de Cristo seja feito 30 anos depois de Êxtase de São Francisco, há muitos elementos que são retomados por Giordano”, continua Joaquim Caetano, apontando as semelhanças entre as duas obras.

O conservador destaca ainda a forma como Êxtase de São Francisco, comprado em 1848 para a Academia Real de Belas-Artes, no leilão dos bens da rainha D. Carlota Joaquina, mulher de D. João VI (a obra provinha das colecções reunidas no exílio pelo seu pai, Carlos IV, Rei de Espanha e de Nápoles), “tem mantido a boa marca dos restauros de cem em cem anos”. Há um século foi Luciano Freire, fundador do restauro em Portugal, quem restaurou esta obra. “Apesar de ter algumas zonas de maior degradação como os rebordos, globalmente as figuras principais foram muito pouco mexidas”, conclui Caetano.

Sugerir correcção
Comentar