Procuradora admite ter passado informação confidencial a burlão

Antiga magistrada do DIAP alega ter ficado convencida de que estava a ajudar agente da Interpol.

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Uma ex-procuradora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) que está a ser julgada por abuso de poder, violação do segredo profissional e falsificação de documento admitiu esta quinta-feira em tribunal ter passado informação confidencial a um burlão que foi seu namorado e se senta agora também no banco dos réus. A antiga magistrada Sónia Moreira alegou, porém, que o fez na convicção de que estava a ajudar um agente da Interpol, uma vez que foi nessa qualidade que o agora arguido Lorosa de Matos se lhe apresentou.

Foi a primeira vez que Sónia Moreira, entretanto expulsa do Ministério Público, falou em tribunal desde o início do julgamento. As informações confidenciais que passou ao falso agente, que estava afinal fugido da cadeia, iriam supostamente permitir-lhe capturar criminosos procurados pela Interpol. O que a ex-procuradora não soube explicar às juízas, porém, foi por que razão tinha então pesquisado nas bases de dados do DIAP informações relacionadas com os agentes da Judiciária que haviam posto na cadeia Lorosa de Matos, que usava várias identidades falsas. E pôs a hipótese de terem sido colegas seus a efectuar as pesquisas no seu computador, usando a sua palavra-chave.

Noutros casos, de pesquisas de informações confidenciais sobre moradas e matrículas de automóveis de vários juízes, alegou que andava à procura de familiares do burlão, que lhe dissera ter um irmão gêmeo juiz e que tinha, entretanto, desaparecido da sua vida de um momento para o outro, sem aviso. Como não sabia qual era o seu apelido, disse Sónia Moreira, andou à procura na base de dados de um juiz que tivesse sido colocado em Coimbra, como o namorado lhe havia dito que sucedera, e que tivesse a mesma altura que Lorosa de Matos, de quem garantiu nunca ter suspeitado ao longo dos vários anos que se relacionou com ele.

Se o tal juiz era seu irmão gêmeo devia ter a mesma altura, raciocinou a ex-procuradora-adjunta, perante algum espanto por parte da juíza que preside ao colectivo, que não percebeu como pode alguém numa profissão ligada à investigação de criminosos revelar tanta ingenuidade. “Não consigo lembrar-me da forma como ele me convencia, mas eu dava por mim a fazer as coisas que me pedia”, referiu a arguida, que é suspeita de ter percebido desde muito cedo que estava a lidar com um criminoso e mesmo assim ter decidido ajudá-lo a escapar à cadeia, auxiliando-o na aquisição de identidades falsas. “Tinha saído de um divórcio difícil quando o conheci num chat e a minha confiança nele foi desde o início quase absoluta”, repetiu a ex-magistrada.

A sessão do julgamento ficou marcada por um insólito, quando uma testemunha abonatória de Sónia Moreira, outra procuradora-adjunta, entrou na sala de audiências antes de ser chamada e ficou a ouvir o depoimento da arguida, algo que é proibido. A magistrada, cujo testemunho acabou por ser dispensado, alegou não conhecer a lei.

 

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