ONU denuncia aumento "alarmante" de mulheres e crianças mortas no Afeganistão

Em 2013, morreram 2959 civis no Afeganistão e as Nações Unidas atribuem a subida ao aumento dos combates em zonas populacionais.

Foto
Em 2013, o número de civis mortos aproximou-se do recorde de 2011 Ahmad Masood/Reuters

O número de civis mortos no Afeganistão voltou a disparar em 2013, com um aumento “alarmante” entre as mulheres e crianças, revelam as Nações Unidas num relatório divulgado neste sábado. Uma espiral que é associada à retirada progressiva das forças internacionais e ao consequente aumento dos combates entre os taliban e as forças afegãs.

Nos últimos doze meses, a ONU contabilizou 2959 civis mortos pelas forças em combate, a que se juntam outras 5656 feridas – números que somados representam um aumento de 14% face a 2012, ano em que se tinha registado uma ligeira melhoria nesta sombria estatística. A missão da ONU no Afeganistão (UNAMA) sublinha também que o número de vítimas mortais ficou próximo do recorde de 2011, quando 3133 civis foram mortos no país.

O relatório atribuiu quase três quartos das mortes a acções directas dos taliban – os engenhos artesanais colocados em locais públicos foram a principal causa de morte entre os civis –, mas sublinha que está a aumentar o número de vítimas apanhadas no fogo cruzado, em que não é possível identificar o responsável. Este “nevoeiro” da guerra, como lhes chama a ONU, é um resultado directo da “mudança de dinâmica” do conflito, agora que se aproxima o fim da missão da Força Internacional de Assistência e Segurança (ISAF), no final deste ano.

Em 2013, a força da NATO transferiu a totalidade das províncias para o controlo afegão e a ONU diz que “o encerramento das bases militares internacionais e a redução das operações aéreas e terrestres da ISAF deu aos grupos rebeldes maior mobilidade e capacidade em certas zonas para atacar as forças governamentais”. “Mais combates no solo implicam mais civis mortos ou feridos pelos tiros cruzados”, explica o chefe da UNAMA, Jan Kubis.

Há cada vez mais combates a ser travados nas aldeias e cidades o que ajuda a explicar o enorme aumento do número de mortes entre as mulheres (mais 36% do que em 2012) e as crianças (+34%). Em 2013, foram mortas no Afeganistão 235 mulheres e 561 crianças, naquele que foi o pior ano para estes dois grupos desde 2009.

“A triste realidade é que a maior parte das mulheres e das crianças são mortas ou feridas na sua vida quotidiana, em casa, a caminho da escola ou quando trabalham nos campos”, disse à AFP Georgette Gagnon, encarregada da UNAMA para os direitos humanos.

A ONU identificou ainda 54 ataques aéreos das forças internacionais que mataram ou feriram civis, 19 dos quais conduzidos por drones. Apesar de serem responsáveis por uma pequena fatia (3%) das mortes, estes ataques são uma das principais causas da fricção entre o Governo afegão e os aliados internacionais – e se o número de acções caiu quase 10% face ao ano anterior, a ONU sublinha que metade das mortes causadas são de mulheres e crianças.

O relatório denuncia ainda um preocupante aumento do número de mortes – incluindo execuções – atribuídas à polícia afegã, uma força criada em 2010 para actuar nas zonas mais remotas do país e que, segundo as Nações Unidas, foram responsáveis “por violações dos direitos humanos cometidas com total impunidade, muitas vezes com a cobertura de responsáveis provinciais e nacionais”.

Sugerir correcção
Comentar