Juncker cada vez mais perto de suceder a Durão Barroso?

O ex-primeiro-ministro luxemburguês, apreciado nos países do Sul pela distância face à linha dura da austeridade, tem boas hipóteses. Berlim pode já ter aceite a ideia.

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Jean-Claude Juncker é o decano absoluto e o mais experiente dos líderes europeus ENRIC VIVES-RUBIO/PUBLICO/Arquivo

Só os partidos conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) é que ainda não escolheram um candidato para substituir Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, mas Jean-Claude Juncker, ex-primeiro-ministro do Luxemburgo, tem boas possibilidades de vir a ser o escolhido.

A decisão só será tomada durante o congresso do PPE de 6 e 7 de Março, em torno de quatro aspirantes: Jyrki Katainen, primeiro-ministro da Finlândia, Valdis Dombrovskis, primeiro-ministro da Letónia, o francês Michel Barnier, comissário europeu responsável pelo mercado interno e serviços financeiros, e Juncker.

Katainen é pouco apreciado nos países do Sul, Dombrovskis pouco conhecido e Barnier nunca foi primeiro-ministro — um dos requisitos oficiosos —, o que torna Juncker no candidato com mais hipóteses.

A grande incógnita que ainda subsiste tem a ver com a posição de Angela Merkel, chanceler alemã, a quem foi atribuída durante vários meses uma preferência por Donald Tusk, primeiro-ministro da Polónia, apesar de o seu país não ser membro do euro. O Financial Times dava esta segunda-feira conta de uma mudança da posição de Merkel em benefício de Juncker.

O luxemburguês tem a seu favor o facto de ser o decano absoluto e o mais experiente dos líderes europeus (chefiou o Governo do Luxemburgo durante 19 anos e presidiu ao Eurogrupo durante oito), vir de um país fundador da UE que beneficia da notação financeira máxima e de ter o apoio dos países do Sul, que apreciam a sua distância face à linha dura da austeridade de Berlim.

Juncker é igualmente muito respeitado no Parlamento Europeu que terá de confirmar, por votação, o candidato nomeado pelos governos. 

Os eurodeputados gostariam de ser eles a escolher o presidente da Comissão por causa de uma disposição do Tratado de Lisboa segundo a qual a nomeação terá de ter em conta o resultado das eleições europeias (que decorrem este ano de 22 a 25 de Maio). Os chefes dos governos não lhes querem dar esse poder, e contam, quando muito, escolher, na cimeira de Junho, um nome oriundo da família política mais votada.

Mesmo assim, todas as famílias políticas europeias decidiram apresentar às eleições o seu candidato à presidência da Comissão, embora saibam que o seu escolhido poderá não coincidir com o dos líderes.

Desta forma, se os partidos do PPE (que inclui o PSD e o CDS/PP) forem os mais votados, como apontam as sondagens e tem sido o caso, o sucessor de Barroso, que entra em funções a 1 de Novembro, será um dos seus.

Os socialistas foram os primeiros a escolher, ainda em Novembro, o seu candidato, o alemão Martin Schulz, líder do Parlamento Europeu.

Os liberais hesitaram durante longas semanas entre Guy Verhofstadt, ex-primeiro ministro belga e líder da respectiva bancada no PE, e o finlandês Olli Rehn, comissário europeu responsável pelos assuntos económicos e financeiros, que acabou por ser preterido em favor do primeiro.

Os Verdes optaram por uma candidatura dupla — o francês José Bové e alemã Ska Keller —, enquanto os comunistas escolheram o grego Alexis Tsipras, líder do partido da esquerda radical (Syriza).

Outros cargos em jogo

Schulz, que só por milagre será o escolhido para a Comissão — não só porque as sondagens colocam os socialistas atrás do PPE, mas também porque Merkel, conservadora, terá uma grande dificuldade em escolher um socialista para Bruxelas —, espera ser compensado com algum dos outros cargos europeus que estão por preencher até ao fim do ano, a começar pelo de alto-representante para a Política Externa da UE.

Para este cargo, o socialista alemão terá a concorrência de Radoslaw Sikorski, ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, que poderá, no entanto, ser ultrapassado, se os líderes escolherem o igualmente polaco Donald Tusk para presidente do Conselho Europeu, em substituição do belga Herman van Rompuy, que termina o mandato a 30 de Novembro. Durão Barroso ainda não excluiu esta hipótese.

Finalmente, Olli Rehn visará a futura presidência permanente do Eurogrupo.

Todas estas nomeações estão dependentes de um delicado equilíbrio entre países grandes e pequenos, do Norte e do Sul, do Leste e do Ocidente, de esquerda e de direita e, sobretudo, entre homens e mulheres. Por enquanto, nenhuma mulher se perfila para nenhum cargo, o que significa que as conjecturas já feitas poderão esvair-se em fumo até Junho.
 
 

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