António Capucho acusa PSD de ser um partido "manietado"

O social-democrata António Capucho, que tem a "sua militância suspensa", critica acesamente o PSD.

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Capucho auto-suspendeu-se do PSD antes das autárquicas Fotos: Bruno SimÕes Castanheira

Um partido “manietado”. É assim que o antigo autarca de Cascais, António Capucho, descreve o PSD. O social-democrata acusa ainda Passos Coelho de "manter o status quo" e considera que no próximo Congresso social-democrata nada de relevante vai acontecer.

O antigo dirigente nacional social-democrata, António Capucho, fez esta quinta-feira duras críticas ao PSD – partido do qual poderá vir a ser expulso por ter concorrido à Assembleia Municipal de Sintra numa lista de cor partidária adversária da sua. 

Em declarações à agência Lusa, o ex-presidente da Câmara de Cascais descreve o PSD como um partido "muito enfraquecido e muito manietado", com secções "fechadas", dominado por "um conjunto de oligarquias, com algumas excepções".  

Capucho disse que muitos militantes que conhece "nem se dão ao trabalho de pagar a quota, nem se dão ao trabalho de ir às reuniões do partido, porque é perfeitamente inútil", concluindo: "Não tem nada a ver com o partido que eu ajudei a fundar e a implementar em todo o país".  

Ainda no que respeita ao XXXV Congresso do PSD, que se realiza em Fevereiro, critica a moção de estratégia global que o presidente do partido e actual primeiro-ministro vai apresentar aos congressistas. "Para além de ser uma moção laudatória do Governo, não tem absolutamente nada sobre a regeneração do partido, quando toda a gente sabe como é que este partido está a funcionar, com grupos que pagam as quotas, o sistema habitual das barrigas de aluguer, que se espalhou de uma forma inacreditável - de resto, o PS tem tido problemas similares. Não tem nada sobre a regeneração interna, sobre a reactivação do partido", aponta.   

Sublinhou que, embora tenha neste momento a "militância suspensa” e não possa por isso participar no Congresso do partido, não teria, em qualquer caso, "a mínima paciência para passar dois dias no Coliseu dos Recreios a ouvir uma sequência de monólogos", afirma.  

"O que vai acontecer é nada. Não vai acontecer nada. A comunicação vai lá fazer o relato de algumas intervenções e aquilo vai ser um passeio de Passos Coelho", acresentou.

O antigo dirigente partidário lamenta que o PSD não proceda à revisão das leis eleitorais, no sentido de uma redução do número dos deputados e da introdução de círculos uninominais, e à alterações ao pagamento de quotas e ao financiamento dos partidos.  

No seu entender, a moção social-democrata também não apresenta "nada de extraordinário sobre a reforma do Estado". Para António Capucho, o PSD devia avançar com um projecto de lei eleitoral para a Assembleia da República semelhante ao que o PS apresentou em 2001, mas reduzindo o número de deputados de 230 para 180.  

Por outro lado, o antigo autarca defende que "o Estado devia deixar de financiar os partidos" e estes deviam ter de "aumentar as quotas" para se "autofinanciarem". Estas medidas mudariam o funcionamento interno dos partidos dificultando as referidas "barrigas de aluguer", denúncia Capucho.

"Estas reformas do Estado é que ele devia apresentar no Congresso. Não vai apresentar nenhuma delas, claro, vai manter o status quo", sustenta.
 

"Perseguição partidária"
António Capucho contesta a sua eventual expulsão do PSD alegando que antes de ter integrado uma lista adversária do seu partido em Sintra, houve uma violação dos estatutos pelas comissões políticas distrital de Lisboa e nacional.

O antigo dirigente afirmou à Lusa que, na carta que enviou em sua defesa, advoga que, "se há aqui uma violação dos estatutos, começa por ser uma violação praticada pela [Comissão Política] Distrital [de Lisboa] e pela [Comissão Política] Nacional" do PSD.

O histórico social-democrata alega que esses órgãos do PSD violaram os estatutos ao rejeitar "sem qualquer justificação" a candidatura de Marco Almeida à presidência da Câmara Municipal de Sintra, que tinha sido "aprovada pelas bases do partido por unanimidade". E sugere que essa rejeição aconteceu "porque ele não era apaniguado de quem está neste momento no poder" no partido, apontando como única razão possível “perseguição partidária”.

Contactado pela agência Lusa, o ex-presidente da Câmara Municipal de Cascais adiantou que, numa carta registada enviada na segunda-feira ao Conselho de Jurisdição Nacional social-democrata, invoca também "os serviços prestados" ao país e ao seu partido "durante 40 anos".

Sobre a possibilidade de regressar futuramente ao PSD, declarou: "Não a quero afastar, porque hoje estão estes, amanhã podem estar outros. Imagine que […] estas oligarquias que dominam o partido se afastam e que aparece o partido novamente regenerado e democratizado, admito que sim, que possa ponderar o regresso, no caso de me expulsarem agora".

A este respeito, lembrou que "houve militantes que foram expulsos no tempo da liderança de Cavaco Silva", por terem apoiado Mário Soares em vez de Freitas do Amaral nas presidenciais de 1985, e que "muitos deles voltaram a inscrever-se, e até beneficiaram do mesmo”, sublinhou.

  

 

  

 
 
 
 
 

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