O tédio das lampreias

Começou a época da lampreia. É costume dizer-se que há quem adore e quem odeie, mas a verdade é mais prosaica. A lampreia nem é boa nem é má: é assim-assim. As maneiras de cozinhá-las são igualmente banais.

Os resultados são saborosos, graças ao vinho tinto. Há à "bordalesa", apesar de nunca ter provado lampreia com um bom ou até mau vinho de Bordéus. E depois há "à minhota" (com vinho verde tinto e aguardente do Minho, mais um toque valente de vinho do Porto).

As lampreias são bichos com dentes horrendos que sabem a cobras de água, se as cobras de água fossem boas.

Para quem gosta de arroz – e de pagar caro – a lampreia é ideal. A lampreia é uma entidade pré-histórica que só sobrevive em águas limpas. A refeição maior da Raínha da Inglaterra era o Lamprey Pie. Que é como quem diz: o empadão de lampreia, um fish pie do caraças, é um exemplo tragicamente ultrapassado da majestade.

Depois de trinta anos de lampreia – um não-peixe do não-mar – só me resta recomendar que se livre de ter uma opinião sobre o assunto, sensaborão. Fuja e proteja-se.

A lampreia é uma enguia sem qualidades, pelo quádruplo do preço. É um barrete de um símbolo nacional, disfarçado como desilusão.

É bonito que as lampreias do Minho só sobrevivam quando a água é limpíssima. Também há bons restaurantes em Matosinhos onde as lampreias são guardadas como tesouros nacionais, em tanques impecáveis.

Faça como eu: diga que não ou que sim e não pense mais nisso.

 

 
 
 
 
 

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